Capítulo 14: O esperado encontro


Capítulo 14: O esperado encontro


Keysha ainda encara Pedro e se mantém paralisada. O rapaz olha dentro de seus olhos e isso a deixa inibida.
-Eu preciso ter uma conversa com você. – fala Pedro.
-E o que você tem pra me dizer?
-Gostaria de me desculpar pelo que houve no dia lá da Orla do lago. Eu estava descontrolado...
-Eu senti na pele esse descontrole.
-Mas não foi porque eu quis! Quer dizer, eu experimentei coisas que nunca antes tinham entrado no meu organismo! Foi uma atitude totalmente tola da minha parte!
-É, pra quem não é acostumado, o negócio traz grandes conseqüências.
-Eu fiz isso porque queria chegar mais perto de você naquele dia... Queria ter um pouco mais de intimidade, falar o mesmo assunto...
-Começou errado.
-Mas eu me arrependo. Não quero nunca mais ter contato com drogas ou álcool. Isso me fez questionar e tentar entender como as pessoas gostam disso.
-Isso não vem ao caso. Eu sei me controlar e uso quando quero.
-Não, Keila. Acho que você não sabe se controlar.
-Me chama de “Keysha”!
-Keila é o seu nome, pelo que me lembro da oitava série. Acho que você não sabe se controlar e por isso usa essas coisas.
-Vai me dar lição de moral agora? Se o que você queria era pedir desculpas, já ta desculpado. Mas não queria ser o meu psicólogo!
De repente, Pedro nota lágrimas nos olhos de Keysha. Aquelas lágrimas significavam algo mais profundo, algo que veio de dentro da garota e que entrava em conflito.
-Você está chorando... Por que?
-Eu só estou um pouco tonta e perturbada... – fala Keysha com uma voz chorosa.
-Você usou essas “coisas”? – diz Pedro se referindo ao álcool e às drogas.
-Não foi só isso... Estou frustrada... Hoje nada deu certo na minha vida. Quase fui até atropelada...
Pedro nota as lágrimas escorrerem no rosto de Keysha e a puxa para sentarem em um banco da praça ali perto atrás da parada de ônibus. Ainda era cedo e havia alguns alunos esperando ônibus. O movimento de carros continuava intenso na avenida W3 Sul.
Ao chegar perto do banco, Keysha empurra Pedro e o faz soltar de seu braço.
-O que foi?
-Você não entende nada! Nada! Você é só um nerdizinho! Não entende nada da vida que rola fora de uma escola!
Pedro respira fundo e chega perto de Keysha:
-A pergunta é: eu estou triste por gostar de estudar e não ser muito de baladas? E a resposta é: não. Cada um deve seguir aquilo que gosta de fazer. Eu não sigo o que os outros querem para mim. Claro, tive minhas recaídas, como o que aconteceu naquele dia lá na orla.
-Não, você não entende. Não sabe o que é sair, curtir os prazeres, relaxar enquanto fala bobagem. Não sabe aproveitar a vida. Deve só ficar na frente do computador o dia inteiro.
-O que é “curtir os prazeres”? É fugir da realidade se drogando ou bebendo? Eu prefiro enfrentar a realidade, é uma atitude mais de homem pra mim. Você curte aquele barato e, horas depois, os problemas continuam ali e você sem resolvê-los.
-Essa conversa ta me cansando. Não adianta bater boca contigo.
-Acho que é porque você não agüenta as verdades.
-O que você sabe sobre isso? O que um CDF pode me dizer sobre viver a vida? Ah, já me cansei disso! To de saco cheio!
Keysha começa a ficar estressada e se levanta. A garota apressa o passo para ir embora. Pedro se sente incomodado com aquela atitude e grita:
-E onde está a Keila, Keysha?
Keysha para por um instante e fecha os olhos.


Enquanto isso, perto dali, Keith e Reginaldo resolvem passear pelo shopping Pátio Brasil. Reginaldo falou para sua mulher que iria viajar a negócios e veio pra Brasília só pra passar alguns dias com Keith. Logo que chegou à capital da república, o coroa já foi se satisfazer com a ninfeta e descarregar todas as energias que acumulavam em seu corpo. Keith se entregou a tais prazeres e por isso deu pouca importância na hora que Keysha ligou pedindo um ombro amigo seu.
Keith entra nas lojas mais caras do shopping e vai admirando as roupas de grife. Reginaldo apenas a acompanha e se excita com o rebolado e o bumbum de Keith. A garota usa uma blusa tipo “top” e uma calça bem apertada, o que realça suas partes traseiras. Keith pega roupas que vão de cem a trezentos reais e vai amontoando na sacola da loja. Reginaldo apenas sorri.
-Naldooo, olha essa blusinha aqui que linda... E junto com essa calça então... Vou ficar tão bem nelas...
-Eu quero é que você fique mais gostosa, minha gostosa...
-Ai, vou pegar aquela jaqueta de couro ali. Ta fazendo um frio...
Reginaldo apenas sorri e a olha com um olhar de doce apaixonado.
Ao chegar no caixa, Keith joga suas roupas no balcão e fica toda animada. A atendente que fica no caixa fala:
-Tudo dá dois mil reais. Qual vai ser a forma de pagamento?
-Ah, o Naldo aqui vai pagar pra mim. – fala Keith.
Reginaldo tira seu cartão de débito e paga as roupas de Keith sem dor no coração. Aquele gesto deixa Keith mais confiante ainda de que pode manipular o seu coroa como bem quer.
Reginaldo é um rico fazendeiro do interior de São Paulo. Seus filhos já são crescidos e estão fazendo intercâmbio nos Estados Unidos. Sua busca por uma amante, por sexo alternativo, começou na internet. Ele conheceu Keith em um bate-papo e desde então tem se encontrado direto com a garota. A sua esposa acha que ele viaja a negócios, embora pareça não se importar muito com isso, já que o relacionamento dos dois tem esfriado muito ultimamente.
Ao sair da loja, Keith fica toda feliz com suas compras e parece se exibir para outras pessoas. Ela então comenta:
-Ai, Naldo. To precisando de uns sapatos novos.
-Mas não tem nem dois meses que te dei um novo...
-Ai, Naldo, deixa de ser murrinha! Você me deu apenas uma sandália e uma mulher bonita e chique como eu precisa variar os calçados. O que as minhas amigas vão dizer se virem minhas fotos no Orkut com o mesmo tipo de sandália?
-Tudo bem. Mas pode deixar que eu escolho pra você, minha gostosa.
-O quê?
Reginaldo se precipita e entra em uma loja de calçados. Keith se espanta com aquela atitude de seu amante e parece não gostar muito. Reginaldo pega um calçado e mostra para a garota.
-Argh! Que horror! Isso é sandália de empregada doméstica! – diz Keith, bem alto.
As pessoas que estavam na loja se espantam com as palavras preconceituosas ditas por Keith. Reginaldo fica meio sentido, afinal, ele tinha gostado do modelo de sandália e imaginou que a garota ficaria bonita calçada nelas.
Keith olha a vitrine e pega a sandália mais cara.
-Olha, é esse modelo aqui que eu gosto, viu?
Reginaldo olha as sandálias que ele havia pegado e, cabisbaixo, concorda:
-Tudo bem...


Nesse mesmo momento, Luciana, a nova amiga de faculdade de Pedro, está no ônibus que a levará de volta para a Samambaia. Desde quando havia entrado no veículo, a universitária já tinha percebido a presença de pessoas um tanto esquisitas sentadas mais ao fundo. Toda vez que Luciana sai de casa, ela fica preocupada com a segurança do imóvel e de sua mãe, que também trabalha e fica sozinha durante boa parte da noite. Luciana trabalha em um comércio na Asa Norte e, depois do expediente, desloca-se para a Asa Sul, lugar onde cursa sua faculdade.
De repente, o celular de Luciana toca. O som do toque é de uma música sertaneja famosa e aquilo chama a atenção de outros passageiros. A garota atende o celular e olha desconfiada para as pessoas mais ao fundo.
-Luciana?
-Oi, mãe.
-Filha, na hora que você voltar da faculdade, desce uma parada depois, porque lá perto da pracinha está meio escuro.
-Tá bom. Beijo – fala Luciana um pouco preocupada.
A universitária guarda o celular em sua bolsa e sente que é espionada pelos maus elementos.
-Ai, esse povo me olhando... – pensa.
Depois de alguns minutos, Luciana vê passar a parada que costuma a descer normalmente e já dá sinal para descer na próxima. Ao se levantar e chegar perto da porta de saída, ela nota que os dois homens que ela não foi com a aparência também se levantam.
-Me protege, Deus... – pede.
Chega a temida parada. O lugar estava mais iluminado e aumentava em apenas uma quadra a distância até a casa de Luciana. A garota desce e o seu coração aperta. Seu desejo era de que poderia haver apenas uma coincidência e que aqueles dois homens fossem descer em outra parada. Mas não era. Ao dar seus passos iniciais, Luciana percebe que os dois também desceram e seguem pelo mesmo caminho que ela percorre. Ninguém mais tinha descido do ônibus a não ser os três. Sentindo-se mais nervosa ainda, a universitária apressa seu passo naquela vazia praça que tinha descido. Sua casa estava há poucos metros, mas, à noite, parecia uma eternidade para se chegar até lá.
Ao andar mais rápido, Luciana percebe que, calados, os dois homens também apressam o passo. Aquela situação a deixa mais nervosa e a garota começa a correr. Os dois homens se olham e começam a correr também. Luciana começa a ser perseguida. Faltam poucos passos para ela entrar em sua rua. Os rapazes correm mais rápido e visam a bolsa da universitária. Ao virar a esquina de sua rua, Luciana se assusta e tromba com algo.
-Aah... – grita.
-Calma. Desculpa.
Luciana quase deixa sua bolsa cair. Ela levanta o rosto e sente-se aliviada por ver um vizinho seu.
-Ai, Adriano, graças a Deus!
-O que houve, Luciana?
-Aqueles dois homens ali estavam me perseguindo.
-Que dois homens? Não tem ninguém.
Luciana olha para trás e se espanta. Ela conclui:
-Fugiram como se entrassem na terra... Mas eu não estou delirando! Eles saíram do ônibus junto comigo e estavam de olho na minha bolsa.
-Calma. Eu te acompanho em segurança até a sua casa.
Luciana segue com Adriano até a porta de sua casa.


Pedro ainda olha Keysha ficar parada de costas para ele.
-Por que você não aceita o seu verdadeiro nome? Acha ele feio?
-Não te devo satisfações.
-Tudo bem. Mas se eu adivinhar, você promete que volta pra conversar comigo?
-...
-Keysha... é um nome de super-heroína pra você. Não é você. É quem você brinca de ser “super-herói”...
Keysha começa a chorar e se vira na direção de Pedro. O rapaz caminha perto da garota de cabelos rosa e a abraça.
-Eu... eu não posso ser Keila... A Keila é uma menina boba que todo mundo pisa em cima. É uma garota fraca e sem atitude... Eu não quero isso pra minha vida...
Pedro continua abraçando Keysha e acaricia seus cabelos. Quem os via de longe até poderia julgar que era um casal apaixonado pedindo desculpas pelos erros.
-Eu te entendo. Todos nós sofremos por não estarmos inseridos em algum grupo. Por isso, chegamos até ser excluídos. Ninguém quer ser só.
-Pois é. Eu não posso ser um fracasso.
-E você não é. Não precisa se disfarçar de super-heroína e se mascarar. Você é a Keila. Tem que ser aquilo que a sua natureza é.
Keysha chora mais um pouco no peito de Pedro e o abraça com força. A garota então levanta a cabeça e, pela primeira vez, olha fundo nos olhos esverdeados do rapaz.
-Você é tão compreensivo. É diferente do Erick. Aquele traidor só me usa e me trai. Agora eu quero me vingar dele...
Nesse momento, Keysha segura o rosto de Pedro para lhe dar um beijo. Pedro passa por cima de seus sentimentos e de seu tesão pela garota afastando-a de seu rosto. Keysha arregala os olhos e não entende aquela atitude.
-Por que me rejeitou? Você não gosta de mim?
Pedro para um pouco e pensa. Ele busca no fundo dos seus sentimentos, passando pelo seu tesão e chega ao campo da racionalidade. Ele então conclui:
-Você pode ter pensado agora que eu não gosto mais de você ou até mesmo que eu não gosto de mulher. Mas eu não quero te beijar. Sabe por que? Porque você merece um beijo de amor, carinho, consideração e respeito. Um beijo de alguém que vai te ajudar a crescer e a ser Keila, seu verdadeiro “eu”. Isso é algo que eu não vou poder te dar. Não porque eu não goste mais de você, mas sim porque você não gosta nem de mim e nem de você mesma...
Ao falar essas palavras, Pedro se afasta de Keysha e vira as costas.
Keysha se ajoelha no chão e chora ainda mais.


>>>> (continua no final da semana!) <<<<

*Imagem provisória.

**Música tema de Keysha e Pedro:


coldplay - warning sign

Capítulo 13 – Andarilha

Capítulo 13 – Andarilha

Keysha ainda continua dormindo do apartamento de Rody na 210 Norte. Seu sono é longo e, ao mesmo tempo, ingênuo e puro. Apesar de ter transado com Erick, ainda não se sentia uma mulher madura. Agia apenas como uma criança indefesa.
Já são quase seis horas da noite e o tempo vai escurecendo, pois a época é de equinócios, cujas noites são mais longas que os dias. Keysha abre os seus olhos sonolentos e ainda sente-se perdida no tempo e no espaço. Ela se vê nua na cama e rapidamente se cobre. Então, um cheiro paira no ar... era um cheiro conhecido... era maconha. Aquele cheiro faz Keysha despertar totalmente e observar que ainda estava no apartamento de Rody. Mas onde estão Rody e Erick?
A garota de cabelos rosa procura suas roupas e apressa-se em vesti-las. Ainda descalça, Keysha segue até perto da porta do quarto e nota Rody e Erick na sala aproveitando um barato. Ela passa a mão por seus cabelos ainda embaraçados e sente peso na consciência. Seu coração se aperta e a agonia prevalece.
-Meu Deus... o que eu fiz? – reflete a garota.
Então ela procura seu celular na sua jaqueta e já pensa em pedir ajuda para alguém. Keysha vê o nome de Keith nos seus contatos e já liga para a sua amiga.
-Ai... atende, Keith...
-Alô? – fala Keith.
-Keith, sou eu. Ce ta em casa?
-To, mas...
-Que bom. Tem como você vir aqui no Rody não? To meio mal...
-Ai, miga... é que o Naldo chegou... a gente tava até curtindo um “love” quando você ligou...
-...
-Desculpa, ta?
-Tá bom... – fala Keysha, ao se despedir e fechar seu celular lentamente.
Keysha fica pensativa por um minuto e logo resolve se levantar. Ela sai do quarto e é avistada por Rody e Erick. Os dois ainda fumavam na sala.
-Finalmente acordou, Keysha! – fala Rody.
-E aí, gata... – fala Erick.
Keysha não olha direito nos olhos de seus colegas e aproveita a situação para pegar uma folhinha de seda em cima da mesa para bolar um “beck” pra si. Rody e Erick apenas observam o silêncio da garota. Keysha termina de enrolar a erva em um pedacinho de papel e resolve se sentar para curtir o barato também. Erick sorri e olha para as pernas da garota.
-Você é o máximo...
-Por que você ta dizendo isso? – pergunta Keysha.
-Você é muito boa de cama, guria... Quero mais... Muito gostosa!
Keysha se sente ofendida com aquilo e rapidamente se levanta. Ela apaga o beck no cinzeiro e chega perto da porta.
-Pois foi nojento, Erick! Você é um nojento! – grita Keysha.
A garota abre a porta e sai do apartamento. Erick olha para Rody e fica sem entender.
Keysha desce pelas escadas do prédio e lágrimas caem dos seus olhos. Seus sentimentos estão confusos. Mas como poderiam estar confusos se ela estava com alguém que sentia atração? Talvez não seja interessante entender os sentimentos de Keysha nesse momento, mas sim entender o que os ocasionou.
A noite já chega em Brasília. Carros iluminam as artérias da cidade. Keysha sente fome e resolve passar numa lanchonete ali perto do prédio de onde Rody mora. Ao entrar no estabelecimento, a garota de cabelos rosa nota um ambiente quase vazio, exceto pela presença de Anderson e sua amiga Jéssica. Keysha olha bem para o rapaz de olhos azuis e acha ridículo a sua fala alta. Anderson segue conversando com sua amiga:
-Pois é! Arre! Eu falei pra ele que não poderia entrar no curral, mas o danado desobedeceu. Acabou levando uma chifrada! Há, há, há...
-Você é debochado, Anderson.
-Rapaz, quem tem mais contanto com interior, com roça, sempre tem um causo pra contar.
Keysha sente um arrepio, um asco quando ouve falar na vida rural. Ela não se imagina vivendo em um lugar onde não tenha concretos e nem fumaça de trânsito. A garota se apressa para pegar um refrigerante e um pacote de salgadinhos. Ao olhar pra frente, ela nota que Anderson e Jéssica entraram na fila do caixa. Keysha acha isso um incômodo, pois terá que aturar a fala dos dois durante alguns segundos. Anderson continuava a falar alto enquanto pagava pelo lanche que consumiu junto com Jéssica:
-Eu moro mesmo na capital, sabe? Mas minha vó mora na roça. Lá o sotaque é mais carregado ainda! Por isso eu tenho até a mania de chamar os outros de “bichim”! Há, há, há...
Keysha fica agoniada e balança a garrafa de 600ml do refrigerante. Esse ato estimula a pressão dentro do recipiente. A garota abre a garrafa e a pressão faz o refrigerante saltar e molhar a camisa de Anderson. O universitário olha para trás e fica enfurecido:
-Olha só o que você fez! Por que não ficou mais longe?
-Escuta aqui. Eu já to estressada com essa sua demora pra pagar a conta. Anda logo!
-Você é muito mal educada!
-Sem educação é você quando fala gritando!
Keysha passa na frente e deixa o dinheiro do refrigerante e do salgadinho. Jéssica e Anderson ficam impressionados.
-O que ela pensa que é? E esse cabelo de extraterrestre... – fala Anderson ao achar esquisito o tom rosa nos cabelos de Keysha.
Keysha toma o refrigerante e se sente um pouco tonta. O fato de ter fumado logo ao acordar a deixou mais vulnerável aos efeitos da droga. A garota tenta atravessar o Eixão Norte, mas se desencoraja por estar tonta. Então ela segue até a passagem subterrânea mais próxima e faz a travessia das quadras 200 para as quadras 100. Keysha sabe que o Eixão é uma via perigosíssima de alta velocidade e sem semáforos, fatos estes que já ocasionaram muitas mortes.
Ao subir as escadas para sair da passagem subterrânea, Keysha tropeça e acaba machucando seu joelho.
-Putz! Mas que merda!
A garota se sente um lixo como ser humano, mas resolve se levantar apesar do péssimo dia que está passando. Ao subir e passar entre o comércio e os prédios das quadras, Keysha vê mendigos e crianças pequenas cheirando cola nos becos escuros. Aquilo a assusta um pouco. Mais pela pobreza e miséria das pessoas e também pela aparência descuidada. Keysha apressa o passo. Agora ela passa entre as quadras 300 e já avista de longe a avenida W3 Norte. O vento vem mais forte e dá uma sensação térmica de frio. Keysha já está passando pelas quadras 500 e nota um semáforo fechado. Ela resolve correr para tentar passar para o outro lado da pista. De repente, o sinal abre. A garota de cabelos rosa chega a dar quatro grandes passos no meio da pista quando um carro freia bruscamente e quase a atinge. Jorge e Lídia é que estão no carro.
Jorge se assusta e Lídia se impressiona.
-Você ficou maluca? Presta mais atenção!
-Calma, Jorge. Ela se precipitou.
-Ah, eu não tenho paciência com certas coisas.
-Fique calmo.
Keysha olha para Jorge e Lídia e fica sem graça. Ela então termina de atravessar a avenida. Jorge e Lídia continuam seu caminho.
Após atravessar as avenidas, Keysha está do lado das quadras 700. Ela vai para a parada mais próxima e espera pelo ônibus com a inscrição “Grande Circular” para ir embora para sua casa, na Asa Sul. A garota se vê sozinha na parada e sente mais frio ainda. Keysha sente desanimada com o dia que teve:
-Droga... não acredito no que fiz. O Erick se aproveitou de mim. Não foi com amor. Se aproveitou de uma distração, de um momento que eu estava fora de si! Como eu sou burra! Eu quero ir pra casa! Desde que acordei, só coisas ruins têm acontecido.
Keysha fecha os olhos e bate sua cabeça de leve no muro da parada como quisesse se punir. Alguém então coloca a mão em seu ombro. Keysha se assusta.
-Calma, fofaaa. – fala Khrysthyanne Andrielly.
Keysha fica aliviada ao ver a travesti, que já está arrumada para fazer seus programas.
-O que foi? Ta tentando abrir a cabeça pra ver se tem algum cérebro aí?
-Hoje eu não to legal. Só aconteceu merda.
-De onde cê ta vindo? Não me diga que lá da casa do “playboy fracassado”?
-Quem é esse?
-Hum, hum, hum... ora, queridaaaa, fala isso como se não conhecesse a maricona chamada Rody...
-Ah... to vindo de lá mesmo. Mas não quero me lembrar.
-O que aquela viada aprontou contigo? Olha que eu vou lá dar na cara dela!
-Não foi ele. Foi o Erick. Ele só me usou...
-Ih, homens são todos iguais, minha flor. Não tenta entender eles, ta? Por que você acha que eu sou louca varrida e to jogada às traças aí?
-Estou decepcionada.
-Se joga, linda! Balança a peruca e veste a roupa! Seja você mesma! E outra: não seja amiga do playboy fracassado. Aquilo ali é perdição pura!
-O Rody é meu amigo de baladas...
-Aquilo ali ta mais pra bicha forrozeira! Depois procura lá no “youtube” o “forró do viado”. Igualzinho ao playboy fracassado.
Nesse momento, o ônibus de Keysha se aproxima.
-Foi bom falar contigo. – se despede Keysha.
-Arrasa, gata! – grita Khrysthyanne Andrielly.
Keysha entra no ônibus e acena para Khrysthyanne. A garota escolhe um assento no fundo do ônibus e encosta a cabeça na janela. Um pouco do passado vem à tona em sua cabeça. Keysha era uma garota como todas as outras. Seu brilho eram suas notas boas na escola. Isso despertava a inveja de muitos e o interesse de outros. Por ser tão dedicada, ela não tinha controle de sua vida e, por isso, acabava sendo ridicularizada e manipulada pelas outras pessoas. Mas ela tinha que mudar...
O ônibus está perto da parada onde Keysha irá descer. A garota dá o sinal e desce. Há muitos estudantes universitários esperando o ônibus para voltar pra casa. Hoje a aula durou pouco por causa de uma reunião que todos os professores iriam ter. Keysha desvia de algumas pessoas e se depara com Pedro.
Nesse momento, Pedro dá um beijo no rosto de Luciana. A garota entra no ônibus que irá para a cidade-satélite chamada Samambaia. Pedro dá um sorriso e acena para sua amiga de faculdade. Embora não façam o mesmo curso, eles se tornaram amigos depois de terem se conhecido na sala de informática.
Pedro volta o seu olhar pra frente e vê Keysha. Seu sorriso murcha e ele fica sério. Keysha respira fundo e olha dentro dos olhos do rapaz. A garota então sai do tumulto e segue em direção à sua casa. Pedro olha as horas em seu relógio.
-Ainda está cedo... – fala o rapaz.
O universitário corre atrás de Keysha e fala:
-Espera!
Keysha fica parada, mas ainda de costas. Pedro pega em seu braço e a encara.
-Hoje sim é que eu vou ter uma conversa com você.


>>>> (continua...) <<<<

*Imagem ainda não disponível.

**Link do Youtube que
Khrysthyanne Andrielly recomendou a Keysha (forró do viado):

http://www.youtube.com/watch?v=cAvdHEDlPS0

***Música que estava na mente de Keysha durante todo o seu percurso:


Lady GaGa - Poker Face