Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Pedro ainda chora. Nathan olha o seu colega de faculdade e sente uma profunda pena. Rody fica impressionado com o que aconteceu e olha com olhos arregalados para Pedro e Keysha. Erick vê a cena e solta um sorriso irônico. Ele parece debochar da ingenuidade do rapaz e da sua fraqueza para com a bebida. Por fim, Keysha ainda suspira de raiva e nota sua unha preta quebrada.
-Seu doido! Sai de perto de mim! – grita Keysha.
Nathan olha para Keysha e reprova a atitude dela:
-Ele não ta bem! Não fez isso porque quis!
-Ele tentou me pegar à força e você ainda defende ele?
-Ele fez isso porque gosta de você, sua burra!
Keysha fica impressionada com o que Nathan acabou de dizer. Erick continua sorrindo e se divertindo com a situação. Nathan ajuda Pedro a se levantar.
-Vem, amigo. Vamo embora pra minha casa.
Nathan dá as costas e não se despede de Keysha, Rody e Erick. Pedro está cambaleante, em pé apenas porque Nathan o segura. Keysha se treme toda e olha novamente para a sua unha do dedo indicador da mão direita quebrada. Ela volta sua atenção para o rosto de Pedro e vê um pequeno arranhão.
Nathan ajuda Pedro a entrar em seu carro e logo dá partida para ir embora. Pedro ainda chora e se sente um pouco tonto e confuso pelo o que acabou de acontecer.
-Me desculpa, Nathan. Eu to tonto e com dor de cabeça.
-Relaxa, amigo. Vou te levar pra minha casa lá em Taguatinga Sul.
-Puxa vida... estraguei o dia...
-Fica calmo. Tu só extrapolou.
-Caraca... Pra que eu fui fumar aquela coisa nojenta?
-Po, eu gosto de fumar. Não tem nada a ver isso, cara.
-Você não tem medo de perder neurônios? Sem contar que é um troço fedido!
-Não vou discutir isso contigo.
-Papo de quem acha que não passa da conta... que não admite pra si mesmo que fuma demais... Ah, e eu ainda fui beber vodca...
-Você tomou tudo.
-E eu perdi Keysha... olha só o que eu fiz com ela.
-Não sei o que você viu nela. É uma garota meio confusa.
-Eu sonhava com ela. Sentava longe dela por causa da minha timidez de chegar perto. Ela sempre mexeu comigo... Eu ficava ofegante, arrepiado e atrapalhado...
-Que amor, amigo. Eu acho que nunca amei ninguém...
Nathan segue com o carro e passa ao lado do Congresso Nacional. A madrugada de Brasília está bem estrelada e o céu parece estar se preparando para um novo amanhecer. Ainda assim, as luzes iluminam o Congresso, o Palácio do Itamarati e os ministérios. Nathan admira aquela beleza e olha para Pedro. O rapaz agora dorme profundamente como se tivesse saído de uma batalha e precisasse de aconchego. E, na verdade, não foi muito diferente...


Um vento gostoso de se sentir chega junto com o amanhecer. Keysha sente esse ventinho bater em seu rosto ainda na Orla do Lago Paranoá. Ela ainda segura a sua mão direita e fica de olhos fechados para poder pensar sobre sua vida. Rody, que tirava um cochilo, resolve se levantar. Erick puxava uns tragos e olha para o seu colega se levantando:
-Po, to com dor de cabeça do caramba! Rola mais de ficar aqui não.
-Sim, vamo. Ainda tenho que ir pra casa da Juliana...
Keysha respira fundo e segue para perto do carro de Rody sem olhar para seus dois colegas ali presentes. Rody e Erick se olham e seguem para o carro.
Todos entram no carro e seguem de volta para o centro de Brasília.
-Me deixa lá em frente ao Pátio Brasil, Rody. De lá, eu vou a pé pra casa. – fala Keysha.
-Falou.
Keysha está no banco de trás do carro de Rody e se deita para pensar na vida. Ao olhar aquela cena, Erick aproveita a parada do carro no sinal vermelho e pula para o banco de trás. Erick quase deita em cima de Keysha e comenta:
-Tá com sono é?
-Ah... um pouco...
-Tá parecendo a Bela Adormecida assim...
-Me deixa, Erick...
Erick olha para Rody por meio do retrovisor e dá um sorriso.
-Deixa eu acordar a princesa, vai?
Keysha não responde nada e Erick aproveita a situação para lhe dar um beijo na boca. Keysha permite aquela situação. Erick, toma a mesma posição que Pedro tomou. Só que nesse caso, Keysha não se incomoda, nem mesmo com o bafo de maconha que Erick traz consigo. Erick a fazia ser Keysha... Pedro a fez ser Keila...


Minutos depois, Rody deixa Keysha e Erick em frente ao shopping Pátio Brasil e segue para a casa da sua namorada. Keysha vai andando desanimada e Erick pega em seu braço. A garota de cabelo rosa dá um sorriso e os dois seguem para a quadra 703 Sul.
Rody segue pela avenida W3 Sul e faz um retorno. Ele entra pela avenida W2 Sul para chegar mais rapidamente ao prédio onde sua namorada mora. Na Asa Sul, apenas nas quadras 700 há casas residenciais. As quadras 100, 200, 300 e 400 há apartamentos. As quadras 500 correspondem ao comércio e são viradas para a Avenida W3, assim como também as quadras 700. Já as quadras 600 e muitas das 900 são tomadas por colégios, prédios empresariais, entre outros. Nas quadras 800, há clubes. Na Asa Norte, nas quadras que corresponderiam às 800 está o território onde fica a Universidade de Brasília.
Rody chega à quadra 208 Sul. Ele desce do carro e liga para o celular da sua namorada. São quase sete horas da manhã.
-Oi, amor... To aqui embaixo no prédio. Desce aí.
Passando alguns minutos, Juliana desce e vai ao encontro de Rody.
-Ué, por que você ta aqui tão cedo?
-Eu acordei cedinho só pra ter ver, morzinho...
Rody começa a dar beijos na boca de Juliana.
-Você nunca nem fez isso, amor... – comenta Juliana.
-Eu tava com saudade. – fala Rody ao beijar o pescoço de sua namorada.
Ele a pega pela mão e a leva para dentro de seu carro. Rody fica olhando para a sua namorada. Juliana fica sem entender nada e boceja:
-Ahhh... nossa, ontem eu fiquei estudando tanto. To vendo lógica de programação na facu.
-Hum.
Rody começa com a beijar sua namorada novamente. Beija sua mão, seu braço, seu pescoço, sua boca, seu rosto. Juliana vai conversando enquanto isso:
-Ai, amor... eu ainda não entendo por que você trancou sua facu... Ta certo que seu pai te sustenta e você tem um bom apartamento na Asa Norte... mas eu queria te ver ocupado com alguma coisa. Nem para os ensaios da sua banda você tem ido mais...
-Hum... – responde Rody, sem dar muita importância para aquilo.
O rapaz de cabelos loiros sujos pega o rosto de sua namorada e lhe dá um beijo sufocante. Juliana empurra o seu rosto e fala:
-Ai, espera! Que tanta “beijação” é essa? Você nem ta dando ouvidos para o que eu estou te falando!
-Nossa, como você ta chata hoje, hein? Eu to com saudade e você me trata assim!
-E olha como você me trata! Eu estou tentando levar um papo sério contigo e você nem me escuta! Aliás, nunca me escuta!
-Ah, quer saber? Eu vou embora! Depois a gente se fala!
-Se é isso que você quer...
Juliana sai do carro de Rody e não olha para trás. O rapaz fica estressado com aquela situação e sai com seu carro.


Nesse momento, um avião pousa no aeroporto de Brasília. Veio de Recife e antes fez escala na Bahia. Aquele era o voo de Anderson. O rapaz sai do avião e espera sua bagagem na esteira. Ele dá uma olhada em tudo em volta e sente uma imensa alegria. Uma nova etapa de sua vida se inicia agora. Depois de pegar sua mala e sua mochila, Anderson sai pela ala de desembarque. Ele observa bem a estrutura do aeroporto e fica fascinado. Há muitas lojas e um amplo espaço para se visitar. Ao andar mais um pouco, ele nota a estrutura do primeiro andar do aeroporto, bem como sua arquitetura, seus monumentos e pinturas.
Anderson sobe a escada do hall para observar detalhadamente o lugar. Ele chega ao lugar dos restaurantes e onde se pode ver os aviões chegando e partindo. Ao olhar as horas em seu celular, o rapaz compreende que não pode se atrasar. Ele desce as escadas e procura por uma loja onde se pode vender um mapa de Brasília. Ao entrar na loja, ele pergunta:
-Bom dia! Aqui eu posso encontrar algum mapa da cidade?
-Sim. A gente vende este guia aqui. É ótimo!
-Vou leva-lo então!
-Você veio de que lugar?
-Recife.
-Ah, que legal. Sabia que a maior parte da população de Brasília é nordestina?
-Que bom. Vou estar em casa.
-Sim. Seja bem-vindo a Brasília!
-Obrigado!
Anderson compra o mapa e sai da loja. Ele vai se orientando e pergunta para um dos guardas como se faz para chegar à rodoviária. O guarda informa que há uma parada logo ali mesmo dentro do aeroporto onde ele poderá pegar um ônibus. Anderson segue com sua bagagem pesada e chega à parada. Há várias pessoas na mesma situação que ele esperando pelo ônibus. O rapaz conclui que ônibus ali deve ser uma coisa difícil... E é mesmo... Apenas após uma hora ali é que o ônibus chega... E fica logo lotado!
Anderson já fica espantado com o preço da passagem, mas entende que esse é o preço por se viver na capital do país. Ele senta mais atrás no ônibus e vai notando a paisagem. O ônibus sai do aeroporto e atravessa boa parte do Lago Sul, bairro nobre de Brasília e onde há várias embaixadas.
Depois de algum tempo, o ônibus finalmente chega à rodoviária do Plano Piloto! Anderson desembarca e fica um pouco espantado. A rodoviária está um pouco suja e com sinais de deterioração, precisando ser urgentemente reformada. Há alguns mendigos e crianças de rua olhando as pessoas formarem filas para embarcar nos ônibus. Anderson observa as lojas ali no térreo, bem como nota as escadas rolantes enferrujadas. Antes de seguir para o seu destino, ele resolve subir as escadas.
Após subir as duas escadas rolantes, Anderson chega à plataforma superior da rodoviária. Lá, ele fica impressionado com o amplo espaço e com a visão do horizonte que se tem daquele lugar. À sua frente está a Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional bem ao fundo. O sol do dia vai nascendo e parece se encaixar perfeitamente entre as duas torres do Congresso. O futuro universitário acha aquilo lindo e resolve pegar sua câmera digital para fotografar tudo.
Anderson chega até o limite da plataforma superior da rodoviária e tem uma melhor visão da Esplanada dos Ministérios. À sua esquerda, ele pode ver o Teatro Nacional e admirar sua arquitetura. À sua direita, está o museu, que tem um formato de uma semi-esfera, e a Biblioteca Nacional, que está mais perto da rodoviária. Há uma rodovia no lado direito, também chamada de Eixão Sul ou simplesmente Eixão. Dali, pode-se ver o prédio do Banco Central, do Banco de Brasília e do Banco do Brasil. Ao olhar para trás, o rapaz vê a Torre de Tv e os setores de Hotéis. Ele vai fotografando tudo aquilo esperando que o seu cartão de memória caiba tantas fotos! Anderson também fotografa o céu de Brasília. Que céu único e espetacular! Limpo e bem azul!
Como agora está de costas para a Esplanada dos Ministérios, Anderson vê do seu lado esquerdo um centro comercial chamado de Conic, e do seu lado direito o maior shopping de Brasília: o Conjunto Nacional.
Depois de tirar inúmeras fotos, Anderson guarda sua câmera digital e abre novamente o mapa.
-Universidade de Brasília... Entrar pela avenida L2 Norte... Bom, já está na hora de eu ir para a minha nova casa... a Casa do Estudante Universitário!
Anderson segue de volta para a rodoviária e desce as duas escadas. Ele pede informações com os motoristas de como chegar à UnB. O rapaz é então orientado a pegar o ônibus “Grande Circular”.


O dia parece passar rápido e o final da tarde já se aproxima. No Setor Bancário Sul, Jorge se prepara para ter uma reunião com a equipe que ele faz parte. São apenas três pessoas, incluindo Jorge, que cuidam de conta-poupança dos clientes do banco público. A Gerente Operacional os chama para uma sala reservada e, assim que Jorge e Letícia chegam, começa a falar:
-Bom, Jorge e Letícia. Eu os chamei aqui porque quero designar o meu substituto, aquele que assumirá um cargo de gerente temporário quando eu tiver que resolver assuntos externos ou falta por qualquer que seja o motivo.
Jorge se anima e mal espera para ouvir sobre quem a gerente Suzana escolheu.
-Infelizmente a gente só pode escolher um e eu fico triste e alegre ao mesmo tempo por dar essa notícia... mas quem me substituirá será você, Letícia.
Letícia dá um sorriso e abraça Suzana. Jorge fica decepcionado com aquilo e argumenta:
-Mas, Suzana... Eu tive experiência em agência bancária e cheguei até a ser gerente. Tem um ano que estou aqui na gerência. Isso tudo não conta?
-Ah, Jorge... é que a Letícia precisa mais...
Jorge engole aquilo a seco e fala:
-Tudo bem.
O bancário sai da sala muito decepcionado e vá para a sua mesa arrumar suas coisas. Já estava dando hora de ir embora. Antes de ir, ele passa no banheiro e lava o rosto. É preciso respirar fundo ao sentir que anos de experiência foram por água abaixo. Letícia era novata na gerência e não tinha tantos anos de experiência como Jorge tinha. O bancário respira fundo várias vezes para aquele choro interno passar.
Jorge sai do banheiro e vê que o tempo passou, pois as luzes do andar já estavam apagadas. Ele entra no elevador e desce para o subsolo. Chegando lá, ele procura por seu carro e nota um movimento do lado oposto. Ao observar bem, Jorge nota Letícia e Suzana se beijando dentro do carro.
-Então era isso... – comenta Jorge.
O bancário dá um soco na parede e entra em seu carro. Ele faz o retorno na pista e entra no Eixão Sul. Jorge não pensa em outra coisa a não ser ir para sua casa no Gama e esquecer aquela decepção do dia. Só mesmo conversando com a “Professora Carente” para poder se animar. Aliás, era aquele pensamento que lhe dava mais forças para prosseguir no dia depois de tantas “panelinhas” no serviço.
Depois de algum tempo, Jorge chega em casa e a primeira coisa que faz é ligar o computador. Enquanto vai tirando a roupa e ficando apenas de cueca para daqui a pouco tomar banho, ele espera abrir o MSN. E lá estava ela... “Professora Carente” on-line...
-Oi! – tecla Jorge.
-Oi. Tudo bem? Estava com saudade. – tecla a professora.
-Nossa, amor, to tão estressado. Tiraram um cargo que era pra mim... tudo porque a minha gerente tem um caso com minha colega de equipe.
-Liga não. Estou aqui pra te animar. Quero que você me anime também, pois enfrento problemas com alunos. Eu tenho uma aluna que é um problemão...
-Eu sei... Ei, amor... Estamos teclando há tanto tempo e eu ainda não vi uma foto sua... Pra dizer a verdade, ainda não te mandei uma minha...
-É verdade, rs.
-Acho que se eu ver uma foto sua, eu me animo. Vou tirar uma aqui agora. Estou só de cueca. Não vai se importar, né?
-Rs, não vou. Vou te mandar uma.
Jorge pega o seu celular e, com muito respeito, tira uma foto sua apenas do umbigo para cima. Ele conecta o cabo do celular no computador e transfere a foto.
-Acabei de tirar. Aceita a foto.
A professora logo aceita a foto. Depois de alguns segundos, ela digita:
-Nossa, você é muito bonito. Aceita agora a minha foto!
Jorge fica ansioso e logo baixa a foto para o seu computador. Após abrir a foto da professora, ele digita:
-Você superou minhas expectativas... Lídia, realmente você é uma professora muito bonita...


>>>>(continua na próxima semana!)<<<<

*Na foto, Anderson fotografando Brasília!

**Música que Anderson escutou no seu celular enquanto observava a Esplanada dos Ministérios na plataforma superior da rodoviária:

Jota Quest - Dias Melhores



Capítulo 7 – Tentando te alcançar...


Capítulo 7 – Tentando te alcançar...


Pedro escuta o amigo de Nathan avisar que a garota de cabelos rosa estava chegando e logo o seu olhar fica atento. O seu coração acelera ao procurar Keysha no meio da multidão. E lá está ela... Cabelos rosas, jaqueta preta, uma camisa feminina da banda de rock Reação em Cadeia vestida com muito estilo, calça rasgada e coturnos... A garota que despertou os impulsos do jovem rapaz caminhava até ali perto dele. Tudo bem que agora não era mais Keila, mas sim Keysha!
Keysha olha para frente e avista Pedro perto de seus conhecidos. Ela mantém o seu olhar sincero e egocêntrico, mas não tira o olho do rapaz de olhos verdes. Para Pedro, o mundo parecia só dele e de Keysha naquele momento. Quando ele decide ir cumprimenta-la, Rody e Erick chegam perto da garota.
-E aí, Keysha... – fala Erick.
Pedro vê aqueles dois rapazes cumprimentando Keysha e se sente deslocado. Seu jeito é mais comportado, com roupas no estilo social, além da sua postura cheia de etiquetas. Já Erick e Rody eram o oposto: estilo próprio, tatuagens, piercings, jeito descolado... aquilo ali era muito distante da realidade de Pedro.
Nathan também cumprimenta Keysha e em nenhum momento se lembra de aproximar o seu colega de faculdade do restante das pessoas.
-Galera, vamo entrar na festa?
-Bora. Só estava esperando você voltar. – fala Rody.
Nathan e seus amigos, além de Keysha, Rody, Erick e Pedro, vão para dentro do estádio. Eles são revistados pelos seguranças, procedimento este que evita que pessoas entrem com bebidas ou armas. Após todos passarem, Nathan respira aliviado, pois traz consigo alguns cigarros.
Pedro vai acompanhando toda aquela turma e nota a multidão que já estava dentro do estádio Mane Garricha. Gente de diversos estilos dançando ou conversando. Era muito barulho.
-Vamo mais pra perto do DJ? Quero curtir a potência máxima do som! – pergunta Nathan a todos.
Todos concordam e seguem para perto do palco onde está o DJ. Eles ficam perto das caixas de som e curtem ao máximo o volume alto. Pedro franze sua testa e fica um pouco tonto por causa da altura do som, mas ainda assim se junta aos amigos de Nathan.
Os jovens ficam parados em um lugar e dançam. Pedro tenta dançar e disfarçar seus passos tímidos e meio desengonçados. Erick fecha os olhos e fuma um cigarro. Rody conversa com Keysha:
-A doida da Keith ficou com raiva naquele dia?
-Se ela pudesse, teria dado uns murros na sua cara, Rody! – fala Keysha.
-Ela é mó garota TPM! Acho que ficou com raiva porque eu tentei beijar ela!
-Falar nisso, cadê a sua namorada?
-Tá em casa. Ela é muito careta, mas eu gosto dela. Mas eu quero mesmo é uma garota de atitude...
Keysha sorri com aquilo e continua a dançar. Seu olhar se encontra com o de Pedro novamente e a garota murcha o sorriso. Pedro balança a cabeça para cumprimenta-la e resolve chegar perto.
-Olá!
-E aí, mano. De boa? – fala Rody.
-Oi... – cumprimenta Keysha.
-Estão gostando do som? – pergunta Pedro.
-Estamos. – responde Rody.
Pedro dá um sorriso sem graça. Ele tem a sensação de que não agradou aos presentes e se sente em outro planeta, apesar dos poucos centímetros fisicamente distantes de Keysha e Rody. Pedro então olha para o lado e se assusta: Nathan acaba de enrolar um papel grande e o acende como se fosse um cigarro. O colega de faculdade segura o fino papel, coloca-o na boca e suga o ar prazerosamente. Ao soltar a fumaça para o vento, Nathan observa Pedro colocar a mão no nariz.
-Isso é maconha? Tava demorando... – pensa Pedro.
Erick esbarra sem querer em Pedro e se apressa em chegar perto de Nathan. Ele parece ter ficado alucinado com o cheiro da droga e quer compartilhar daquela fonte de prazer instantâneo. Nathan lhe dá um pouco da folha da planta em uma pequena bolinha de papel. Erick logo tira um flyer do seu bolso e o faz de tubo e de cigarro para poder fumar.
-Ei, a galera ta ali curtindo uma... Bora lá? – fala Rody para Keysha.
-Ih, estão murrinhando beck! Bando de viados! – grita Keysha.
Rody e Keysha vão para perto de Erick e Nathan. Pedro olha tudo aquilo ali distante. Complicado descrever o que ele sente nesse momento em que vê todos compartilhando algo que ele ouviu, durante toda a sua vida, não prestar. Nathan observa seu amigo deslocado e resolve não deixa-lo mais sozinho:
-Ei, foi mal por não ter te avisado, Pedro. Mas não se assusta que a galera aqui é de boa, ta?
Pedro tenta disfarçar a cara de assustado. Seu coração se desmancha quando ele avista Keysha compartilhando da droga. Uma lágrima sai do olho do rapaz de olhos verdes. Ao encarar de novo aquele grupo um pouco distante, Pedro nota Rody falar algo no ouvido de Keysha. De repente, Keysha olha para Pedro e ri. Mas não era um riso para ele e sim uma risada dele. Pedro sente fúria naquela hora...
-Ei, Pedro. Você ta legal? Não ficou com raiva de mim, né? Não to te deixando deslocado, falou? – comenta Nathan.
-Pelo contrário, Nathan... Eu quero compartilhar desse prazer com vocês...
Nathan se espanta com aquela atitude de seu colega de faculdade. Os dois então se juntam ao grupo.


Enquanto a noite avança, Khrysthyanne Andrielly toma coragem e desce de seu apartamento na 714 norte. A dama da noite atravessa uma rua e decide que a próxima esquina será o seu novo lugar de ponto. Algumas prostitutas observam-na de longe e já concluem que uma nova intrusa está no pedaço. Khrysthyanne apenas faz cara de despreocupada e balança sua perna enquanto espera por um cliente.
Os minutos vão se passando e a maior parte das prostitutas do local já conseguiu fazer seu programa. Algumas até três vezes. Khrysthyanne Andrielly já começa a ficar fula da vida:
-Ai, que saco! Só tem bicha pobre aqui nessa bosta dessa quadra! Ou pobre, ou de panelinha! Em que buraco eu fui me meter!
De repente, um homem em um Siena passa ali lentamente e observa a travesti. Khrysthyanne encara o possível cliente e, quando a luz ilumina, ela observa melhor quem está dentro do carro:
-Ih, abriram a porta do museu? Olha só o caco velho...
De fato, um senhor com idade mais ou menos de 70 anos encara a travesti.
-Não olha... não olha... – fala a travesti ao colocar a mão no rosto.
O homem para o carro e acena para Khrysthyanne.
-Ô, pai... será que eu trouxe o Viagra aqui na bolsa?
Khrysthyanne Andrielly então segue para perto do carro.
-Tá quanto o programa, fofura? – pergunta o senhor.
A travesti pensa até em desistir na última hora e aumenta o preço do programa:
-Hoje eu to gostosa e não saio por menos de setenta reais!
-Pois hoje eu to a fim de gastar com putaria e te dou cem. Entra aí, boneca.
Khrysthyanne Andrielly dá um sorriso sem graça e entra no carro. A travesti fecha a cara e segue para o seu programa.


Pedro ainda tremia ao pegar pela primeira vez aquele cigarro. Não era apenas um cigarro... ali continha uma substância da qual ele jamais ousara chegar perto. Ele olha para a expressão no rosto de Nathan e pensa em desistir. Ao olhar para sua esquerda e ver Keysha distraída, o rapaz resolve encurtar as distâncias de personalidades que os separavam...
Depois de algumas tragadas, Pedro começa a tossir. A sensação de tremedeira piora e ele sente sua boca formigar. O som da festa parece ter sua potência aumentada em dez vezes, e as pessoas dançando ali perto parecem ir e vir. O jogo de luzes no estádio Mane Garrincha invadem sua visão e giram numa velocidade incrível. Muitas risadas são percebidas. Pedro então tomba sentado e imagina estar em cima de algo mole. O frio aumenta intensamente e ele não consegue dizer uma só palavra.
Nesse momento, Rody, que também experimentava o barato, dá uma sugestão para a turma toda ali:
-Ei, galera. Aqui ta ficando paia. Bora para um lugar mais livre?
-O que você sugere? – pergunta Erick.
-Sei lá. Que tal a Orla do Lago?
-Ai, eu adoro lá. Eu topo ir. – fala Keysha.
Todos entram em consenso e decidem ir. Nathan tenta convencer os outros amigos que estavam ali perto, mas eles preferem ficar na festa. Keysha já segue com Erick e ambos vão de carona no carro de Rody. Nathan olha para Pedro e fala:
-Você vai com a gente, Pedro?
-...
Nathan o ajuda a se levantar e comenta:
-Calma que já já tu volta ao normal. Bora para a Orla do Lago que tu vai curtir muito esse barato aí!
Nathan vai ajudando Pedro a andar e a desviar da multidão. Os dois saem do estádio e seguem para o estacionamento. Nathan coloca Pedro em seu carro e segue Rody.


Já são quase duas horas da manhã. No aeroporto de Recife, um jovem espera um voo para Brasília: era Anderson. A notícia de que tinha passado em Psicologia na UnB o agradara muito. Aquele momento era um divisor de águas em sua vida. Irá estudar em uma universidade conceituada, morar em um lugar novo e fazer novas amizades. Há poucas horas, já tinha falado com o pessoal da Casa do Estudante Universitário e sua vaga já estava certa na moradia da universidade. É um momento de empolgação.
Anderson senta-se em um banco e se lembra da despedida de seus pais e amigos. Uma lágrima cai de seu olho e o rapaz até pensa em desistir daquela loucura. Ficar em um lugar desconhecido é uma experiência e tanto. Ele teve um contato rápido com Brasília nos dias em que fez a prova do vestibular, mas não foi o suficiente para entender a arquitetura da cidade e a mente de seus habitantes.
Duas horas em ponto. É anunciado que está na hora de os passageiros embarcarem no voo 2702 com destino a Brasília. Anderson respira fundo, toma coragem e levanta-se. Brasília está próxima...


A turma então chega à Orla do Lago. Keysha conversava com Rody e, indiretamente, deixava à mostra seu interesse por Erick. Eles estacionam o carro em cima das britas e correm para a estrutura de madeira construída à beira do lago Paranoá. Alguns pedaços de madeira foram arrancados da estrutura e isso dificulta um pouco a passagem até a ponta. Erick brinca de tentar empurrar Keysha na água e a garota ri muito. Isso traz alegria e uma pontinha de esperança de ter alguma coisa com o rapaz.
Nathan e Pedro chegam logo atrás e estacionam o carro perto do carro de Rody.
-Você tem certeza de que quer ir, Pedro? Acho que tu não ta legal, cara!
-Eu quero sair...
Nathan balança a cabeça e os dois saem do carro. Pedro se sente ofegante e acompanha Nathan. Rody os vê e grita:
-Ei, aqui, seus doidos!
-Lá vem o Nathan e aquele garoto... – fala Keysha.
Rody se vira para Erick e fala:
-Erick, abre o porta-malas lá do meu carro para pegar as bebidas que a gente levou pra festa. To a fim de amanhecer bebaço!
-Falou e disse, brother.
Erick pega as chaves do carro de Rody e segue para o estacionamento. Ele passa por Nathan e Pedro, e comenta:
-A gente vai virar a madrugada ali.
Erick olha para Pedro e volta a olhar para o carro de Rody. Pedro acompanha o cheiro de maconha na camisa de Erick e acaba tropeçando em um vão da estrutura de madeira. Por sorte, Nathan o segura e evita um desastre maior, pois Pedro iria cair dentro do lago!
Os dois chegam perto de Rody e Keysha. Pedro se senta e fica com um olhar bem triste. Keysha nota aquilo e pergunta:
-O que foi que tu ta assim?
-Acho que estou com dor de cabeça... – responde Pedro.
-Eu acho que ele não agüentou os tragos. – comenta Nathan.
-Para, Nathan. Eu acho que foi por causa do vento no carro...
-Quê? Que vento, rapaz! Tu ta delirando! Se nunca tinha fumado, por que exagerou?
-Eu não consigo imaginar o melhor aluno da oitava série fazendo essas coisas. Você era tão CDF... – comenta Keysha.
-Vocês estudaram juntos? – pergunta Rody.
-Sim, mas eu nem lembrava direito. É uma época que eu quero esquecer...
-Por que?
-Bom... deixa pra lá, Rody. Isso não vem ao caso.
Nessa hora, Erick chega com as bebidas. Nathan pega a garrafa de vodca e alguns copos de plástico.
-Puxa, eu estou com sede... – comenta Pedro.
Nathan pega um copo e coloca vodca.
-Não tem água aqui, mas tem essa bebida. Acho que deve dar.
Pedro pega o copo e bebe a vodca. Naquela altura, o gosto da bebida alcoólica já não fazia muita diferença para o rapaz de olhos verdes.
-Bah! Não quero mais tomar essa porcaria! – grita Pedro depois de tomar toda a vodca no copo.
Pedro se levanta e começa a caminhar sem rumo. De repente, ele tropeça e tomba em cima de Keysha.
-Ai! Você ta doido? – pergunta Keysha.
-Finalmente...
Pedro olha bem nos olhos de Keysha e a deixa angustiada.
-Finalmente eu vou conseguir te dar um beijo...
-O quê? Sai de cima de mim!
-Eu sempre quis você... sempre sonhei com você! Agora, me deve isto!
Pedro segura o rosto de Keysha com força e aproxima seus lábios dos do dela. O rapaz consegue dar um beijo em sua amada. Keysha, mortalmente raivosa, empurra o rosto de Pedro com força e, com ódio no olhar, dá um tapa em sua cara...


O estalo do tapa ecoa pela margem do lago...


Pedro cai sentado e olha para a face de todos ali presente: Nathan, Rody, Erick... e Keysha! Ele parece ter se recuperado instantaneamente da alucinação causada pela droga e pela bebida. Pedro começa a chorar. Seu choro brota do interior de seu corpo e se assemelha ao de uma criança, ou ao de alguém que foi abandonado, ou ao de alguém que foi traído, ou ao de alguém que perdeu alguém...
Pedro apenas chora com a mais profunda de suas forças...


>>>>>(continua na próxima semana!)<<<<<

*Música da banda Reação em Cadeia (banda da camisa da Keysha):

Reação em Cadeia - G.A.B.I.


*Na foto, da esquerda para a direita: Keysha, Pedro, Rody, Erick e Nathan.

Capítulo 6 - Como deveria estar... Talvez!


Capítulo 6 - Como deveria estar... Talvez!

Naquela noite, o tempo passava depressa. Mas Jorge, como poucas vezes na vida, não se importou. O papo estava tão agradável que ele se esquecera de tudo que havia acontecido há poucas horas. Seus olhos estavam vidrados na tela do computador enquanto ele escutava Tina Turner. A música era tão boa e tranqüila que aquele momento poderia estar durando horas ou minutos, mas Jorge não se ligava nisso. A cada mensagem que chegava aos seus olhos, seu rosto relaxava. Estava só, mas não se sentia como tal.
Através daquela tela, a “Professora Carente” emanava calor, colo, proteção e tudo que ele mais queria. E o mais interessante de tudo é que resolveram não cair no óbvio: não revelaram identidade, tipo físico, idade. A única coisa que possuíam eram seus nicks e um carinho que tão naturalmente se construiu. Uma parte dele tinha medo. Medo de se envolver. Mas essa parte agora falava tão baixinho, o que não era do seu feitio; ele era tão racional. Coisas acontecem.
Horas se passaram, e ele se encanta mais. Na mesma posição há horas, seus dedos digitavam cada vez mais rápidos procurando dizer mais de si, mostrando que era um homem interessado. Conseqüentemente, após escrever, ansiava por uma resposta. E quando ela chegava, nossa! Era o céu. Às vezes ele ouvia a voz baixinho: “pára com isso! Namoro de internet? Que balela!” Mas ignorava a cada mensagem que retornava à sua. E se engrandecia. Esse era o Jorge Grande, o Jorge herói! Aquele que não tinha medo de amar e que poderia ser tudo naquele momento. E ser feliz.
A “Professora Carente” parecia entusiasmada com o “Último Romântico”. A cada pergunta, uma resposta não demorava. A cada impressão, um alívio. A cada demonstração de carinho, mais carinho. Percebendo tudo aquilo, Jorge só queria ficar mais e mais. Nunca se sentiu tão a vontade e tão livre. Foi chata a hora da despedida, pois já era tarde. Mas marcaram de se encontrar na mesma sala no dia seguinte.

...

Com a noite mal dormida, Jorge acordou exausto. Ainda restavam alguns indícios de que ali havia tido uma reunião de amigos. A mesa do computador abrigava um copo com alguns restos de comida e embalagens de doces. Mas ele estava bem. Quando se lembrava da voz, um sorriso se abria em seu rosto junto com a sensação de estar tão carente a ponto de imaginar coisas. Não sabia seu nome. Não sabia como era seu rosto. Mas ela existia. Em algum lugar de Brasília alguém estava conversando com ele madrugada afora.
-Professora carente... - suspirou.
Arrumou toda a casa. Cantou, dançou (vejam só!) e passou o dia bem. Era disso que estava precisando: sentir o coração bater mais forte. Mas quando colocava suas roupas na máquina de lavar, a voz pessimista conseguiu um tom mais alto e impositivo em seus pensamentos:
-Isso está indo rápido demais! É loucura! Você está indo de encontro a um muro em alta velocidade!
Nesse momento, parou. Empolgou-se menos e decidiu deixar as coisas acontecerem como devem acontecer. Sem pressa. Definitivamente, decidiu que ia sair mais. Pra que se empolgar com isso? Será que outros homens se sentiriam assim? Estava ele errado? Como deveria agir?
-Me faltou experiência de vida isso sim! Meus amigos sempre me dizem isso. – pensa o bancário.
As perguntas e questionamentos ficaram pra depois, quando, mais tarde, ela entrou no chat, e então seus olhos brilharam novamente.


Chega quinta feira. Com seus livros na mão, Pedro caminha rapidamente pelos claros e movimentados corredores da faculdade. Seus olhos procuram por alguém. Seus passos curtos e rápidos denunciam que o intervalo está por terminar. Ele passa desviando dos grupos que conversam em rodas por toda extensão do corredor. Poucos notam a aflição do rapaz, mas alguns o observam.
Após algum tempo de andança, o sinal toca e, nesse momento, Pedro acha quem estava procurando:
-Nathan!
Ele caminha até o amigo, que conversava distraidamente com dois outros rapazes.
-Ei, Nathan! Beleza?
-Fala, cara! Beleza e você?
-Tô passando pra avisar que vou contigo lá pra festa do sábado.
-Mas e seus pais?
-Relaxa. Eu já dei um jeito nisso.
-Fechou então! Você vai com a gente.
-Beleza. Tô indo. Falou!
Pedro caminha, agora mais lentamente em direção a sua sala e entra junto com o professor. Durante a aula, Pedro sentia um pouco de aflição, ansiedade e confiança. Cogitava todas as possibilidades de que seu plano viesse por água abaixo: dissera aos pais que faria um trabalho na casa de um amigo na cidade satélite do Guará e voltaria pra casa apenas no domingo. Os pais não concordaram muito e até propuseram dos amigos irem para sua casa, mas acabaram permitindo.
Pedro queria muito sair, queria muito se libertar um pouco e sentir isso que Keysha sempre sentia, afinal, se ela pediu para que ele fingisse que não a conhecia, muito deveria haver de bacana naquele mundo. Uma pena que ela não fosse, e se fosse, não seria fácil encontrá-la. Um evento tão divulgado em Brasília daria muita gente. Mas enfim! Ele queria sair, queria ver gente, queria sentir o vento gelado da noite de Brasília em seu rosto e estar em um ambiente diferente de seus padrões. No sábado, que se danem os padrões!
No mesmo dia, Tio Pablo liga para o pai de Pedro para saber como vão as coisas e resolverem assuntos pendentes. No meio da conversa, Tio Pablo pergunta sobre o sobrinho:
-E Pedro como está?
-Está bem... Um pouco estranho na verdade.
-Estranho como?
-Caladão. Se a gente fala alguma coisa, ele já estoura.
-É assim mesmo, Paulo. Os jovens de hoje estão assim mesmo.
-Meu filho nunca foi assim, Pablito, aliás, nenhum dos dois.
-Não os prenda tanto, meu irmão. O que o Pedrinho conhece da vida?
-O suficiente para ter um futuro decente!
-E ele terá! Ele é muito inteligente. Mas o que fará quando conseguir um futuro e não ter histórias pra contar sobre sua juventude?
-Não me venha com essa, Pablito, você sabe muito bem que...
-Paulo César! Quando papai foi comprar cigarros e nunca mais voltou, a mamãe é quem ficou por nossa conta! E sempre nos criou com sabedoria! Sempre nos deixou fazer escolhas. Não ignore isso e nem seja um cego ditador agora!
-Jamais serei como a mamãe, Pablito! Ela era única! Não tenho metade da força e da sabedoria dela.
-Pois procure ter! E não crie um revoltado em casa. Pedrinho é um bom garoto, acredite nele.
-Vou conversar com ele.
Ao chegar em casa, Pedro nota seu pai calado. Ele passa para o quarto, onde deixa os materiais e vai para o banho. Ao retornar, nota que sua mãe se encontra na cozinha preparando algo para ele. Sua irmã está dormindo em seu quarto e seu pai, ainda calado, olha para a TV na sala, mas está claro que não está sequer prestando atenção na mesma.
Por um momento Pedro pensa que seu pai descobriu sua mentira para sair, mas isso seria muito difícil. A gente só descobre as coisas perguntando:
-Tudo bem, pai? – perguntou, chegando de mansinho e se sentando.
-Filho, precisamos conversar.
Acabou! Acabou tudo! Ele descobriu! Fim!
Pedro gela por dentro, mas mantém a calma:
-Claro, pai... O que está acontecendo?
-Filho, você sabe o que quer da vida?
-Como assim?
-Sobre seu futuro. Que impressões tem?
-Ué! Serei um administrador! Quero ter um futuro bem sucedido!
-Pedro, um futuro bem sucedido exige esforço e dedicação...
-Eu sei, pai, e estou me esforçando.
-Sei que você tem vontade de fazer coisas que todos os adolescentes fazem. Sair, farrear, paquerar as meninas. Mas isso não está certo, Pedro.
-Por que está dizendo isso?
-Olha, filho, não sou um pai ruim. Só quero o melhor para você e sua irmã.
-Eu sei, pai.
-Então ouça seu pai. Seja quem você é agora. Um garoto dedicado à família, aos estudos. Deixe as farras para os rapazes sem futuro.
-Pai! Eu não ando saindo!
-Eu sei! Mas antes que ponha essas ideias absurdas em sua cabeça.
Pedro se irrita e sai da sala. Sua mãe sai da cozinha e vai atrás do rapaz, que recusa o lanche e fecha a porta do quarto após sua saída.
Dona Mirna, com um andar cansado e devagar, se dirige à sala de olhar baixo:
-Paulo César! Mas que diabos você falou a este menino?
-O suficiente.
Ela sai brava da sala e se dirige à cozinha, deixa o lanche que preparou no forno e vai se deitar.
Enquanto isso, Pedro, bravo, acessa uma página pornográfica do computador de seu quarto e se masturba enquanto chora. O rapaz pratica o ato com fúria, cheio de coisas no pensamento. É como se precisasse ejacular todo aquele sentimento o quanto antes. O Pai, a mentira, Keysha! Nada daquilo ele queria sentir, nada de pagar um preço desses. Os seus movimentos demonstram necessidade de que se finalizasse aquele processo, que se livrasse logo de tudo que havia prendido. Seu peito era só revolta. Durante rápidos movimentos, eis que chega o clímax, onde Pedro sentiu um prazer que se misturou com dor, com alívio e cansaço. Ele fica uns segundos imóvel.
Após o ato o garoto se limpar em uns papéis que se encontram por perto, seca as lágrimas do rosto e vai dormir. Ele está decidido: vai para a festa!


Chega o tão esperado sábado. Nathan está em êxtase imaginando quantas garotas vai “pegar” nessa rave. Os garotos saem da faculdade comentando sobre festas anteriores e sobre as expectativas dessa. Pedro observa a movimentação e por um momento deseja ser invisível para que Nathan o esqueça e então ele tenha uma desculpa por não ter ido. Mas o amigo se vira quando já está do lado de fora da faculdade e grita:
-Pedrão! Vamo nessa, cara? Anda logo!
Ele sai então do transe e acompanha os rapazes. Sente um pouco de receio. Não mentiu nem se aventurou assim muitas vezes na vida.
-Se meus pais descobrem! – pensa o comportado rapaz.
Um amigo que não teve o último horário pegou o carro de Nathan e se dirigiu a um mercado para comprar Vodca, um galão de 5 litros de água, gelo, alguns saquinhos de suco e muita cerveja. Providencialmente, o carro de Nathan possui uma caixa de isopor no porta-malas, coisa que facilita o processo, uma vez que em raves a bebida custa mais caro. Para ele, vale fazer uma economia e trazer algo extra para antes de entrar.
Os rapazes seguem eufóricos no carro, gritando para as meninas na rua, mexendo com os mendigos e fazendo barbeiragens. Pedro permanece quieto na parte de trás do carro. Um dos rapazes diz:
-Iaê, Pedrão! Toma uma cerva aí!
-Não, não. Valeu! Eu to de boa.
O amigo faz cara de reprovação, mas diz logo em seguida:
-É bom que sobra mais! Ha, há, há.
Finalmente os afoitos rapazes chegam ao seu destino: o Estádio Mané Garrincha! As luzes coloridas que se vê de fora dão um ar psicodélico ao lugar. Muitas barracas de cachorro-quente, bebidas, gente gritando, cambistas. Pedro até se confunde com tantas coisas para observar. Passando entre os carros, nota que uma garota está vomitando no chão. Os rapazes tiram sarro dela:
-Eco! Guria podre! Eu não boto minha boca ali não!
-É, muleque! Fim da noite tu ta do mesmo jeito!
Todos caem na gargalhada.
Muita fila para comprar o ingresso. Um dos amigos de Nathan pega o dinheiro de todos e enfrenta a fila enquanto todos aguardam mais distantes do tumulto. Alguns minutos de silêncio entre eles, até que Nathan grita:
-Caraca, meu brother!!!
Ele sai e logo retorna com dois rapazes, um loiro e outro moreno. Eles parecem bem à vontade de bermudas transadas e blusas sem manga. Conversam bem empolgados, até que Nathan os traz para seu grupo:
-Galera! Esses aqui são meus brothers! Rody e Erick!
Todos dizem em tom baixo, fazendo sinal de joia com o dedo:
-E aê, caras. Beleza?
Pedro fica meio tímido, afinal, não costuma demonstrar muita intimidade com estranhos. Rody interrompe as apresentações:
-Ow, Nathan! Ericão aí pagou o maior vexa na boate semana passada! Sem noção!
Erick ri e todos sentem liberdade de rir também. Rody prossegue:
-O bicho ficou doidão! Caiu na boate!
Nathan, aos risos, se diverte:
-É, meu amigo, ta pensando que cachaça é água?
Todos riem até que o amigo que estava na fila retorna com os ingressos. Nathan diz:
-Vamos ali por meu carro? Tem um monte de cerva no porta-malas.
-Vamos sim, Nathan, - diz Rody - só a gente comprar os ingressos, beleza?
-Beleza então. Tamo indo pra lá.
Os amigos observam o ambiente e Pedro continua calado. Ele escuta o que os rapazes dizem e nota o estilo largado de Rody e Erick. Parece deslocado. Ele observa uma senhora vendendo cerveja em canto quando uma frase de um dos amigos de Nathan acaba com toda a sua calma:
-Ei, Nathan! Olha quem tá vindo aí! Aquela guria do cabelo rosa!


>>>> (continua na próxima semana!)<<<<<

*Na foto, Jorge e a sua misteriosa "Professora Carente".

**Música que animou ainda mais Jorge enquanto ele estava no chat:

Tina Tuner - We Don't Need Another Hero

Capítulo 5 – A realidade bate em sua porta


Capítulo 5 – A realidade bate em sua porta

Brasília é uma capital tão desenvolvida como qualquer outra, mas às vezes parece tão pequena que algumas notícias se tornam tão facilmente populares. Pode-se citar, como exemplo, essa recente notícia que saiu nos telejornais e foi o assunto do dia nos ônibus, nas rodas de conversa e em muito mais lugares:


Duas travestis foram encontradas amarradas no Setor Comercial Sul hoje pela manhã. Elas, que atendem pelo nome de Vanessa e Carla, estavam amarradas em uma pilastra do bloco "B". Um funcionário de uma loja próxima as avistou e preferiu acionar a Polícia Militar, visto que Vanessa se encontrava com uma arma na cintura.
Ao serem desamarradas, as travestis alegaram que foram abordadas quando atravessavam o setor, por volta das três e meia da manhã, sendo rendidas por um rapaz pardo, com mais ou menos 1,60m de altura, calça jeans folgada, camisa branca e boné. O mesmo levava consigo uma corda com a qual amarrou as duas. Vanessa afirmou que a arma pertencia ao meliante e que ele colocou o objeto por dentro de sua saia para se livrar da prova do crime. Afirmou também que o mesmo se esqueceu de levar o dinheiro que as duas carregavam devido ao nervosismo do momento. Carla possuía uma escoriação na parte da nuca e alguns arranhões no rosto.
A policia desconfia de acerto de contas, pois Vanessa é suspeita de comandar um ponto de prostituição daquele mesmo setor. Sem provas concretas, a travesti Carla foi liberada na madrugada, e Vanessa permanece na delegacia apenas para averiguação da procedência da arma ilegal que estava em seu "poder".
Ao ser questionada sobre o verdadeiro ocorrido, Vanessa afirma: "O que aconteceu foi só isso, mas a justiça vai ser feita, pode acreditar!" Mais notícias nos próximos boletins.


Khrysthyanne Andrielly desliga a TV e sorri um sorriso debochado, mas com um fundo de preocupação. Ela senta-se em sua cama e diz pra si mesma:
-Isso mesmo, benzinho... Entrega a mamãe que a mamãe te entrega! Se bem que to ferrada... Se essa bicha me pega...
A casa de Khrysthyanne mais parece um camarim desorganizado, com objetos de adorno espalhados por todos os lados: brincos, estojo de maquiagem, sapatos e peças de roupas coloridas jogados no chão enchem a sala. Ela caminha por um estreito e sujo corredor até parar em seu quarto, tão cheio de informação quanto a sala. Após ligar o rádio e se distrair um pouco com a música, a dama da noite olha para o movimento lá embaixo. Tudo parece tão normal: pessoas passando, o sinal fecha, os carros passam, as pessoas passam de novo.
-Eu não prestava pra essa vida monótona. - pensa.
Não é nada fácil morar em uma sobreloja, ainda mais na 714 Norte, e pior ainda tendo uma vida noturna. Khrysthyanne Andrielly e sua amiga Alessandra, uma garota de programa, passam todas as manhãs reclamando de tudo, das buzinas, do movimento, pois naquela quadra movimentada tudo incomoda. Mas nesse dia não. Ela permaneceu calada apenas olhando da janela.
-Tenho que mudar de ponto! A Vanessa me mata se me ver de novo! – continuou pensando.
Khrysthyanne vai pra sala e a ansiedade a faz ligar novamente a TV. O telejornal anuncia novas notícias sobre o caso das travestis:
-A travesti Vanessa, que foi encontrada amarrada em uma pilastra no Setor Comercial Sul, foi liberada após prestar queixa sobre o suposto assalto. Não houve provas de que a arma que estava em seu poder era realmente dela. A arma foi apreendida e a travesti deixou a delegacia por volta das 11 horas.


Na saída da delegacia, Vanessa ainda parecia preocupada e nervosa. Seus saltos ecoavam em todo ambiente, em passos rápidos, como se a qualquer segundo alguém pudesse detê-la. Do lado de fora da delegacia, Carla a esperava. O semblante de Vanessa muda e a preocupação se transforma em ódio:
-Aquela vagabunda vai saber como se come capim pela raiz, ah se vai!


Chega sexta-feira e Keysha está a mil. Em frente ao espelho do seu quarto, ela experimenta várias roupas e as joga em cima da cama, desta vez de porta fechada, pois sempre que sua mãe vê isso, ela reclama e a garota se irrita.
Para Keysha, a noite é sempre uma surpresa, como se algo maravilhoso e inesperado pudesse acontecer a qualquer momento. Às vezes ela pensa que essa vida não leva a nada, mas logo o fim de semana chega e a garota de cabelos rosa não consegue resistir à tentação de se mostrar para o mundo. O seu “uniforme para a noite” é bem provocante, com alguns decotes, saia curta e umas botas pretas na altura do joelho, coladas na perna. Enquanto procura algum defeito em sua roupa ou no seu visual, Keysha pensa em Erick e na reação que ele terá quando a vir. Ela então sorri.
Algum tempo depois, soa um barulho de buzina na frente da casa de Keysha. Sua mãe grita:
-Keyla, é sua amiga!
-Já vou!
A garota termina de passar o lápis preto no olho e sai, deixando a bagunça no quarto. Sua mãe entra e vê aquilo:
-Quantas vezes eu preciso te pedir pra arrumar isso, Keyla? Eu passo o dia na rua e quando chego ainda sou empregada?
-Mãe, olha só, quando eu chegar arrumo tudo, ok?
Ela vai saindo enquanto ouve sua mãe reclamar em alto som todos os lamentos de sua vida e tudo que passa. Quando abre a porta da sala para sair, Keysha fala:
-Beijo mãe!Até mais tarde!
Na frente da casa, na quadra 703 sul, Keith espera a amiga em seu Peugeot 207 vermelho. Ela observa cada passo da amiga em direção ao carro. Keysha abre a porta e entra:
-Iaê, piriguete!!! Só de boa agora que o Naldo tá em São Paulo, né?
-É, esse fim de semana ele não veio, mas também ele ta muito chato, nossa!
-Ah, é?
-E, nesse fim de semana, eu tava mesmo pensando em sair sem um saco murcho a tira colo.
-Há, há, há... Então vamos, amiga!
Keith segue com o carro pela avenida W3 Sul, vazia devido ao horário. Mesmo sem trânsito, as duas andam lentamente por causa dos semáforos, que insistem em fechar a cada quadra. As árvores que ficam no meio da avenida balançam suavemente e exalam um suave cheiro. Keysha fica impaciente com toda aquela cena e diz:
-Você deveria ter ido pelo Eixo, que não tem semáforo.
-Bingo! Como você é esperta! Estamos no final da W3, linda. Devia ter dado essa ideia umas doze quadras atrás!
As duas se olham seriamente e em seguida riem.
-E o Erick, Keysha? Você ta apaixonada, né?
-Que nada! É só curtição mesmo... O que eu ia querer com um moleque daqueles? – fala Keysha ao acender um cigarro.
-Moleque, né? Sei...
-Além do mais ele é muito mulherengo, não vai deixar essa vida nunca!
-Honey, uma mulher tem que usar as armas que tem. Se você deixar essas armas escondidas, ou tiver medo de usar, vai ser traída e pobre para sempre!
Keysha permanece calada, mas seu pensamento emanava veneno:
-Olha só quem fala! Se fosse tão poderosa, não seria a amante que o Naldo nunca vai apresentar pra ninguém! Por que não dizer uma “puta de luxo”?
Enquanto pensa, Keysha observa o setor de hospitais e vê a última parada da avenida com umas duas pessoas no escuro aguardando suas conduções. Ela também pensa em Erick e no que poderia ter acontecido se tivessem se conhecido em outra ocasião, em um clima mais light do que essas boates. Mas talvez ele fizesse como Rody: talvez deixasse a namorada sozinha em casa nos finais de semana, ou talvez não.
Keith interrompe os pensamentos da amiga:
-Entendeu, garotinha?
Ela piscou o olho e Keysha sorriu.
Na boate, a multidão enlouquecida pulava enquanto as batidas da música ficavam mais frenéticas. O ambiente quente e lotado animava o público e todos pareciam felizes e comunicativos, seja pela bebida, seja pelo clima. Pessoas se beijavam. Pessoas se azaravam com conversas ao pé do ouvido. Alguns tentavam ser mais cafajestes, mas poucos se saíam bem sucedidos.
Keysha, como sempre, quebra o fluxo da fila, causando olhares indignados, e fala com o segurança, que a beija no rosto e a deixa entrar com a amiga Keith.
Dentro da boate, as duas avistam todo o ambiente. De mãos dadas, Keith e Keysha seguem empurrando a multidão, que parece não se importar, até que Keysha, que vai na frente, vira pra amiga e diz:
-Olha os meninos lá!
No canto da boate, Rody conversa com uma loira, enquanto Erick está encostado na parede olhando o ambiente. Keysha se aproxima e cumprimenta Rody com um beijo no rosto. Keith apenas aperta a mão do rapaz.
Ao chegar perto de Erick, Keysha nota que ele não está normal. Ela pega em seu rosto e fica decepcionada com o transe que o rapaz está passando.
-Ow! Ele ta doidão! – fala Rody.
Keysha olha para Rody e diz:
-Mas já? A noite mal começou!
-Ele estava em um churrasco de tarde... já veio de lá mamado!
Keysha sente-se um pouco impotente. Keith pega em seu braço e fala:
-Vamos pra outro lugar!
-Não, Keith, calma aí!
Ela observa o amado novamente, com o olhar vago e sem brilho:
-Erick, vamos lavar esse rosto agora!
Atravessando a multidão, Keysha vai guiando Erick e evita ao máximo esbarrar nas pessoas. Ao chegar ao banheiro, a garota de cabelos rosas pede para que um outro rapaz o ajude a lavar o rosto. Erick, cambaleando, sussurrava frases estranhas:
-A culpa é dele! Cara otário!
Keysha não conseguia distinguir, pois o som estava alto e ela estava um pouco longe, perto da porta do banheiro. Após alguns minutos, Erick sai com o rosto molhado e abraça Keysha. Ela o acolhe calorosamente. Na verdade, não era bem um abraço; ela o estava carregando praticamente.
Em outro canto, Rody olha para o teto da boate e se distrai. A loira com que ele estava ficando no início da festa parece ter sumido ou ter encontrado um outro rapaz para ficar. Ele parece não ligar para aquilo e começa a passear no meio das pessoas. Rody se encontra com Keith e a observa dançar. Aquela cena parecia despertar desejo nele. Rody dá um sorriso e tenta usar o seu poder de sedução em sua amiga:
-Ei, Keith, será que você...
-Eta! Cadê a Keysha? Vamo procurar, Rody!
Keith puxa Rody com força e o rapaz de cabelos loiros sujos não consegue completar sua frase. Os dois andam alguns passos e veem Erick encostado na parede junto com Keysha.
-Tá tudo bem por aí? – pergunta Keith.
-Só faltava essa, né, Keith? Eu ficar de babá em plena boate!
Keith olha para a amiga e tira Erick de seu poder. Erick já ia cair no chão quando Rody o segura.
-Ei, vão me deixar aqui com ele?
-Se vira que eu já to puta de raiva! - responde Keith grosseiramente.
As duas amigas sequer olham para trás e vão para uma área aberta, no primeiro andar.
Na área aberta, algumas pessoas conversam alto e riem em grupos. Enquanto seguem de mãos dadas para um canto, Keith e Keysha despertam alguns olhares mais maliciosos.
-Qual é o seu problema, Keysha? Por que ficou segurando aquele babaca?
-Eu não sei...
-Olha, se você quer continuar assim, tudo bem, mas vou dizer uma coisa: essa não é a Keysha que eu conheço! Que ridículo!
-Olha, Keith...
-Olha você! Você agora vai descer essas escadas e vamo mandar ver nessa pista! Vamos pegar geral e que o Erick se dane! Você mesma disse que não namoraria com ele! Seja mulher e honre as coisas que diz.
Com uma ira poucas vezes demonstrada, Keith vai descendo as escadas puxando a amiga. As duas passam por Rody e Erick, que dorme encostado na parede. Rody grita:
-Bravinha que só! Que medinha dela! Garota TPM!
Keith se volta pra trás e encara Rody. O rapaz fica sem reação. Ela volta e, quando chega em sua frente, estende o dedo médio diante de seu nariz.
-Babaca! – fala a furiosa garota.
Keith segue com Keysha ao bar para comprarem bebida. As duas se embebedam e, algum tempo depois, saem frenéticas para a pista. Seus corpos se mexem sensualmente e não demora muito a chegar dois rapazes, que as abordam. As duas sorriem, porém, é perceptível até para uma pessoa como Rody sacar que o sorriso de Keysha não é tão sincero. Ao sentir um pouco de constrangimento com a situação, a garota de cabelos rosas planta uma semente de revolta em seu coração e, com um gole de Vodca, encerra o assunto em sua mente dançando com sua amiga e com os dois rapazes.


Já é madrugada e os amigos de Jorge deixam sua casa, onde foram recebidos para um singelo churrasco. Com a casa vazia, ele observa toda a bagunça que foi deixada e se sente como tivesse ido embora também. Tal como a casa, o seu mundo esvaziava. Sempre foi assim. Quando os amigos chegam, é uma farra; quando vão embora, é terrível!
Jorge abaixa o som, recolhe tudo que foi deixado na sala e segue para o seu quarto. Ele ainda consegue ouvir algumas risadas que foram dadas uns minutos atrás e os assuntos agradáveis.
Jorge mora na cidade satélite do Gama, a 32 km do Plano Piloto. Apesar da distância, seus amigos sempre procuram visitá-lo e dizem que o ambiente de sua casa é hospitaleiro e agradável. Ele, que só vive de trabalho, se sente a melhor das pessoas ao receber pessoas queridas em seu lar, mas se sente um nada quando se vão. E elas sempre se vão.
O bancário caminha em direção a seu quarto, liga o computador e sai para tomar uma ducha. No banho, seu pensamento divaga com mais força e ele não só lembra do encontro que teve com os amigos, mas também de outros momentos agradáveis em sua vida.
Ao retornar para o quarto, ele entra em uma sala de bate-papo. Seu nick “Último Romântico” entrega suas reais intenções na página. Ele cumprimenta os nicks que achou interessante, mas, por enquanto, ninguém responde. Após um tempo visitando outras páginas, ele volta ao bate-papo e nota que alguém quer conversar:
-Hum... “Professora Carente”? Gostei no nick...


>>>(continua na próxima semana!)<<<


*Na foto, as travestis Carla (com fantasia de policial) e Vanessa (a cafetina da região, de vestido amarelo) amarradas misteriosamente. Foto de capa de jornal!
Clique na foto para vê-la maior.

*Música que tocou na boate quando Keysha, Keith, Erick e Rody se encontraram:

Ian Carey - Keep On Rising (Radio Mix)