Capítulo 14: O esperado encontro


Capítulo 14: O esperado encontro


Keysha ainda encara Pedro e se mantém paralisada. O rapaz olha dentro de seus olhos e isso a deixa inibida.
-Eu preciso ter uma conversa com você. – fala Pedro.
-E o que você tem pra me dizer?
-Gostaria de me desculpar pelo que houve no dia lá da Orla do lago. Eu estava descontrolado...
-Eu senti na pele esse descontrole.
-Mas não foi porque eu quis! Quer dizer, eu experimentei coisas que nunca antes tinham entrado no meu organismo! Foi uma atitude totalmente tola da minha parte!
-É, pra quem não é acostumado, o negócio traz grandes conseqüências.
-Eu fiz isso porque queria chegar mais perto de você naquele dia... Queria ter um pouco mais de intimidade, falar o mesmo assunto...
-Começou errado.
-Mas eu me arrependo. Não quero nunca mais ter contato com drogas ou álcool. Isso me fez questionar e tentar entender como as pessoas gostam disso.
-Isso não vem ao caso. Eu sei me controlar e uso quando quero.
-Não, Keila. Acho que você não sabe se controlar.
-Me chama de “Keysha”!
-Keila é o seu nome, pelo que me lembro da oitava série. Acho que você não sabe se controlar e por isso usa essas coisas.
-Vai me dar lição de moral agora? Se o que você queria era pedir desculpas, já ta desculpado. Mas não queria ser o meu psicólogo!
De repente, Pedro nota lágrimas nos olhos de Keysha. Aquelas lágrimas significavam algo mais profundo, algo que veio de dentro da garota e que entrava em conflito.
-Você está chorando... Por que?
-Eu só estou um pouco tonta e perturbada... – fala Keysha com uma voz chorosa.
-Você usou essas “coisas”? – diz Pedro se referindo ao álcool e às drogas.
-Não foi só isso... Estou frustrada... Hoje nada deu certo na minha vida. Quase fui até atropelada...
Pedro nota as lágrimas escorrerem no rosto de Keysha e a puxa para sentarem em um banco da praça ali perto atrás da parada de ônibus. Ainda era cedo e havia alguns alunos esperando ônibus. O movimento de carros continuava intenso na avenida W3 Sul.
Ao chegar perto do banco, Keysha empurra Pedro e o faz soltar de seu braço.
-O que foi?
-Você não entende nada! Nada! Você é só um nerdizinho! Não entende nada da vida que rola fora de uma escola!
Pedro respira fundo e chega perto de Keysha:
-A pergunta é: eu estou triste por gostar de estudar e não ser muito de baladas? E a resposta é: não. Cada um deve seguir aquilo que gosta de fazer. Eu não sigo o que os outros querem para mim. Claro, tive minhas recaídas, como o que aconteceu naquele dia lá na orla.
-Não, você não entende. Não sabe o que é sair, curtir os prazeres, relaxar enquanto fala bobagem. Não sabe aproveitar a vida. Deve só ficar na frente do computador o dia inteiro.
-O que é “curtir os prazeres”? É fugir da realidade se drogando ou bebendo? Eu prefiro enfrentar a realidade, é uma atitude mais de homem pra mim. Você curte aquele barato e, horas depois, os problemas continuam ali e você sem resolvê-los.
-Essa conversa ta me cansando. Não adianta bater boca contigo.
-Acho que é porque você não agüenta as verdades.
-O que você sabe sobre isso? O que um CDF pode me dizer sobre viver a vida? Ah, já me cansei disso! To de saco cheio!
Keysha começa a ficar estressada e se levanta. A garota apressa o passo para ir embora. Pedro se sente incomodado com aquela atitude e grita:
-E onde está a Keila, Keysha?
Keysha para por um instante e fecha os olhos.


Enquanto isso, perto dali, Keith e Reginaldo resolvem passear pelo shopping Pátio Brasil. Reginaldo falou para sua mulher que iria viajar a negócios e veio pra Brasília só pra passar alguns dias com Keith. Logo que chegou à capital da república, o coroa já foi se satisfazer com a ninfeta e descarregar todas as energias que acumulavam em seu corpo. Keith se entregou a tais prazeres e por isso deu pouca importância na hora que Keysha ligou pedindo um ombro amigo seu.
Keith entra nas lojas mais caras do shopping e vai admirando as roupas de grife. Reginaldo apenas a acompanha e se excita com o rebolado e o bumbum de Keith. A garota usa uma blusa tipo “top” e uma calça bem apertada, o que realça suas partes traseiras. Keith pega roupas que vão de cem a trezentos reais e vai amontoando na sacola da loja. Reginaldo apenas sorri.
-Naldooo, olha essa blusinha aqui que linda... E junto com essa calça então... Vou ficar tão bem nelas...
-Eu quero é que você fique mais gostosa, minha gostosa...
-Ai, vou pegar aquela jaqueta de couro ali. Ta fazendo um frio...
Reginaldo apenas sorri e a olha com um olhar de doce apaixonado.
Ao chegar no caixa, Keith joga suas roupas no balcão e fica toda animada. A atendente que fica no caixa fala:
-Tudo dá dois mil reais. Qual vai ser a forma de pagamento?
-Ah, o Naldo aqui vai pagar pra mim. – fala Keith.
Reginaldo tira seu cartão de débito e paga as roupas de Keith sem dor no coração. Aquele gesto deixa Keith mais confiante ainda de que pode manipular o seu coroa como bem quer.
Reginaldo é um rico fazendeiro do interior de São Paulo. Seus filhos já são crescidos e estão fazendo intercâmbio nos Estados Unidos. Sua busca por uma amante, por sexo alternativo, começou na internet. Ele conheceu Keith em um bate-papo e desde então tem se encontrado direto com a garota. A sua esposa acha que ele viaja a negócios, embora pareça não se importar muito com isso, já que o relacionamento dos dois tem esfriado muito ultimamente.
Ao sair da loja, Keith fica toda feliz com suas compras e parece se exibir para outras pessoas. Ela então comenta:
-Ai, Naldo. To precisando de uns sapatos novos.
-Mas não tem nem dois meses que te dei um novo...
-Ai, Naldo, deixa de ser murrinha! Você me deu apenas uma sandália e uma mulher bonita e chique como eu precisa variar os calçados. O que as minhas amigas vão dizer se virem minhas fotos no Orkut com o mesmo tipo de sandália?
-Tudo bem. Mas pode deixar que eu escolho pra você, minha gostosa.
-O quê?
Reginaldo se precipita e entra em uma loja de calçados. Keith se espanta com aquela atitude de seu amante e parece não gostar muito. Reginaldo pega um calçado e mostra para a garota.
-Argh! Que horror! Isso é sandália de empregada doméstica! – diz Keith, bem alto.
As pessoas que estavam na loja se espantam com as palavras preconceituosas ditas por Keith. Reginaldo fica meio sentido, afinal, ele tinha gostado do modelo de sandália e imaginou que a garota ficaria bonita calçada nelas.
Keith olha a vitrine e pega a sandália mais cara.
-Olha, é esse modelo aqui que eu gosto, viu?
Reginaldo olha as sandálias que ele havia pegado e, cabisbaixo, concorda:
-Tudo bem...


Nesse mesmo momento, Luciana, a nova amiga de faculdade de Pedro, está no ônibus que a levará de volta para a Samambaia. Desde quando havia entrado no veículo, a universitária já tinha percebido a presença de pessoas um tanto esquisitas sentadas mais ao fundo. Toda vez que Luciana sai de casa, ela fica preocupada com a segurança do imóvel e de sua mãe, que também trabalha e fica sozinha durante boa parte da noite. Luciana trabalha em um comércio na Asa Norte e, depois do expediente, desloca-se para a Asa Sul, lugar onde cursa sua faculdade.
De repente, o celular de Luciana toca. O som do toque é de uma música sertaneja famosa e aquilo chama a atenção de outros passageiros. A garota atende o celular e olha desconfiada para as pessoas mais ao fundo.
-Luciana?
-Oi, mãe.
-Filha, na hora que você voltar da faculdade, desce uma parada depois, porque lá perto da pracinha está meio escuro.
-Tá bom. Beijo – fala Luciana um pouco preocupada.
A universitária guarda o celular em sua bolsa e sente que é espionada pelos maus elementos.
-Ai, esse povo me olhando... – pensa.
Depois de alguns minutos, Luciana vê passar a parada que costuma a descer normalmente e já dá sinal para descer na próxima. Ao se levantar e chegar perto da porta de saída, ela nota que os dois homens que ela não foi com a aparência também se levantam.
-Me protege, Deus... – pede.
Chega a temida parada. O lugar estava mais iluminado e aumentava em apenas uma quadra a distância até a casa de Luciana. A garota desce e o seu coração aperta. Seu desejo era de que poderia haver apenas uma coincidência e que aqueles dois homens fossem descer em outra parada. Mas não era. Ao dar seus passos iniciais, Luciana percebe que os dois também desceram e seguem pelo mesmo caminho que ela percorre. Ninguém mais tinha descido do ônibus a não ser os três. Sentindo-se mais nervosa ainda, a universitária apressa seu passo naquela vazia praça que tinha descido. Sua casa estava há poucos metros, mas, à noite, parecia uma eternidade para se chegar até lá.
Ao andar mais rápido, Luciana percebe que, calados, os dois homens também apressam o passo. Aquela situação a deixa mais nervosa e a garota começa a correr. Os dois homens se olham e começam a correr também. Luciana começa a ser perseguida. Faltam poucos passos para ela entrar em sua rua. Os rapazes correm mais rápido e visam a bolsa da universitária. Ao virar a esquina de sua rua, Luciana se assusta e tromba com algo.
-Aah... – grita.
-Calma. Desculpa.
Luciana quase deixa sua bolsa cair. Ela levanta o rosto e sente-se aliviada por ver um vizinho seu.
-Ai, Adriano, graças a Deus!
-O que houve, Luciana?
-Aqueles dois homens ali estavam me perseguindo.
-Que dois homens? Não tem ninguém.
Luciana olha para trás e se espanta. Ela conclui:
-Fugiram como se entrassem na terra... Mas eu não estou delirando! Eles saíram do ônibus junto comigo e estavam de olho na minha bolsa.
-Calma. Eu te acompanho em segurança até a sua casa.
Luciana segue com Adriano até a porta de sua casa.


Pedro ainda olha Keysha ficar parada de costas para ele.
-Por que você não aceita o seu verdadeiro nome? Acha ele feio?
-Não te devo satisfações.
-Tudo bem. Mas se eu adivinhar, você promete que volta pra conversar comigo?
-...
-Keysha... é um nome de super-heroína pra você. Não é você. É quem você brinca de ser “super-herói”...
Keysha começa a chorar e se vira na direção de Pedro. O rapaz caminha perto da garota de cabelos rosa e a abraça.
-Eu... eu não posso ser Keila... A Keila é uma menina boba que todo mundo pisa em cima. É uma garota fraca e sem atitude... Eu não quero isso pra minha vida...
Pedro continua abraçando Keysha e acaricia seus cabelos. Quem os via de longe até poderia julgar que era um casal apaixonado pedindo desculpas pelos erros.
-Eu te entendo. Todos nós sofremos por não estarmos inseridos em algum grupo. Por isso, chegamos até ser excluídos. Ninguém quer ser só.
-Pois é. Eu não posso ser um fracasso.
-E você não é. Não precisa se disfarçar de super-heroína e se mascarar. Você é a Keila. Tem que ser aquilo que a sua natureza é.
Keysha chora mais um pouco no peito de Pedro e o abraça com força. A garota então levanta a cabeça e, pela primeira vez, olha fundo nos olhos esverdeados do rapaz.
-Você é tão compreensivo. É diferente do Erick. Aquele traidor só me usa e me trai. Agora eu quero me vingar dele...
Nesse momento, Keysha segura o rosto de Pedro para lhe dar um beijo. Pedro passa por cima de seus sentimentos e de seu tesão pela garota afastando-a de seu rosto. Keysha arregala os olhos e não entende aquela atitude.
-Por que me rejeitou? Você não gosta de mim?
Pedro para um pouco e pensa. Ele busca no fundo dos seus sentimentos, passando pelo seu tesão e chega ao campo da racionalidade. Ele então conclui:
-Você pode ter pensado agora que eu não gosto mais de você ou até mesmo que eu não gosto de mulher. Mas eu não quero te beijar. Sabe por que? Porque você merece um beijo de amor, carinho, consideração e respeito. Um beijo de alguém que vai te ajudar a crescer e a ser Keila, seu verdadeiro “eu”. Isso é algo que eu não vou poder te dar. Não porque eu não goste mais de você, mas sim porque você não gosta nem de mim e nem de você mesma...
Ao falar essas palavras, Pedro se afasta de Keysha e vira as costas.
Keysha se ajoelha no chão e chora ainda mais.


>>>> (continua no final da semana!) <<<<

*Imagem provisória.

**Música tema de Keysha e Pedro:


coldplay - warning sign

Capítulo 13 – Andarilha

Capítulo 13 – Andarilha

Keysha ainda continua dormindo do apartamento de Rody na 210 Norte. Seu sono é longo e, ao mesmo tempo, ingênuo e puro. Apesar de ter transado com Erick, ainda não se sentia uma mulher madura. Agia apenas como uma criança indefesa.
Já são quase seis horas da noite e o tempo vai escurecendo, pois a época é de equinócios, cujas noites são mais longas que os dias. Keysha abre os seus olhos sonolentos e ainda sente-se perdida no tempo e no espaço. Ela se vê nua na cama e rapidamente se cobre. Então, um cheiro paira no ar... era um cheiro conhecido... era maconha. Aquele cheiro faz Keysha despertar totalmente e observar que ainda estava no apartamento de Rody. Mas onde estão Rody e Erick?
A garota de cabelos rosa procura suas roupas e apressa-se em vesti-las. Ainda descalça, Keysha segue até perto da porta do quarto e nota Rody e Erick na sala aproveitando um barato. Ela passa a mão por seus cabelos ainda embaraçados e sente peso na consciência. Seu coração se aperta e a agonia prevalece.
-Meu Deus... o que eu fiz? – reflete a garota.
Então ela procura seu celular na sua jaqueta e já pensa em pedir ajuda para alguém. Keysha vê o nome de Keith nos seus contatos e já liga para a sua amiga.
-Ai... atende, Keith...
-Alô? – fala Keith.
-Keith, sou eu. Ce ta em casa?
-To, mas...
-Que bom. Tem como você vir aqui no Rody não? To meio mal...
-Ai, miga... é que o Naldo chegou... a gente tava até curtindo um “love” quando você ligou...
-...
-Desculpa, ta?
-Tá bom... – fala Keysha, ao se despedir e fechar seu celular lentamente.
Keysha fica pensativa por um minuto e logo resolve se levantar. Ela sai do quarto e é avistada por Rody e Erick. Os dois ainda fumavam na sala.
-Finalmente acordou, Keysha! – fala Rody.
-E aí, gata... – fala Erick.
Keysha não olha direito nos olhos de seus colegas e aproveita a situação para pegar uma folhinha de seda em cima da mesa para bolar um “beck” pra si. Rody e Erick apenas observam o silêncio da garota. Keysha termina de enrolar a erva em um pedacinho de papel e resolve se sentar para curtir o barato também. Erick sorri e olha para as pernas da garota.
-Você é o máximo...
-Por que você ta dizendo isso? – pergunta Keysha.
-Você é muito boa de cama, guria... Quero mais... Muito gostosa!
Keysha se sente ofendida com aquilo e rapidamente se levanta. Ela apaga o beck no cinzeiro e chega perto da porta.
-Pois foi nojento, Erick! Você é um nojento! – grita Keysha.
A garota abre a porta e sai do apartamento. Erick olha para Rody e fica sem entender.
Keysha desce pelas escadas do prédio e lágrimas caem dos seus olhos. Seus sentimentos estão confusos. Mas como poderiam estar confusos se ela estava com alguém que sentia atração? Talvez não seja interessante entender os sentimentos de Keysha nesse momento, mas sim entender o que os ocasionou.
A noite já chega em Brasília. Carros iluminam as artérias da cidade. Keysha sente fome e resolve passar numa lanchonete ali perto do prédio de onde Rody mora. Ao entrar no estabelecimento, a garota de cabelos rosa nota um ambiente quase vazio, exceto pela presença de Anderson e sua amiga Jéssica. Keysha olha bem para o rapaz de olhos azuis e acha ridículo a sua fala alta. Anderson segue conversando com sua amiga:
-Pois é! Arre! Eu falei pra ele que não poderia entrar no curral, mas o danado desobedeceu. Acabou levando uma chifrada! Há, há, há...
-Você é debochado, Anderson.
-Rapaz, quem tem mais contanto com interior, com roça, sempre tem um causo pra contar.
Keysha sente um arrepio, um asco quando ouve falar na vida rural. Ela não se imagina vivendo em um lugar onde não tenha concretos e nem fumaça de trânsito. A garota se apressa para pegar um refrigerante e um pacote de salgadinhos. Ao olhar pra frente, ela nota que Anderson e Jéssica entraram na fila do caixa. Keysha acha isso um incômodo, pois terá que aturar a fala dos dois durante alguns segundos. Anderson continuava a falar alto enquanto pagava pelo lanche que consumiu junto com Jéssica:
-Eu moro mesmo na capital, sabe? Mas minha vó mora na roça. Lá o sotaque é mais carregado ainda! Por isso eu tenho até a mania de chamar os outros de “bichim”! Há, há, há...
Keysha fica agoniada e balança a garrafa de 600ml do refrigerante. Esse ato estimula a pressão dentro do recipiente. A garota abre a garrafa e a pressão faz o refrigerante saltar e molhar a camisa de Anderson. O universitário olha para trás e fica enfurecido:
-Olha só o que você fez! Por que não ficou mais longe?
-Escuta aqui. Eu já to estressada com essa sua demora pra pagar a conta. Anda logo!
-Você é muito mal educada!
-Sem educação é você quando fala gritando!
Keysha passa na frente e deixa o dinheiro do refrigerante e do salgadinho. Jéssica e Anderson ficam impressionados.
-O que ela pensa que é? E esse cabelo de extraterrestre... – fala Anderson ao achar esquisito o tom rosa nos cabelos de Keysha.
Keysha toma o refrigerante e se sente um pouco tonta. O fato de ter fumado logo ao acordar a deixou mais vulnerável aos efeitos da droga. A garota tenta atravessar o Eixão Norte, mas se desencoraja por estar tonta. Então ela segue até a passagem subterrânea mais próxima e faz a travessia das quadras 200 para as quadras 100. Keysha sabe que o Eixão é uma via perigosíssima de alta velocidade e sem semáforos, fatos estes que já ocasionaram muitas mortes.
Ao subir as escadas para sair da passagem subterrânea, Keysha tropeça e acaba machucando seu joelho.
-Putz! Mas que merda!
A garota se sente um lixo como ser humano, mas resolve se levantar apesar do péssimo dia que está passando. Ao subir e passar entre o comércio e os prédios das quadras, Keysha vê mendigos e crianças pequenas cheirando cola nos becos escuros. Aquilo a assusta um pouco. Mais pela pobreza e miséria das pessoas e também pela aparência descuidada. Keysha apressa o passo. Agora ela passa entre as quadras 300 e já avista de longe a avenida W3 Norte. O vento vem mais forte e dá uma sensação térmica de frio. Keysha já está passando pelas quadras 500 e nota um semáforo fechado. Ela resolve correr para tentar passar para o outro lado da pista. De repente, o sinal abre. A garota de cabelos rosa chega a dar quatro grandes passos no meio da pista quando um carro freia bruscamente e quase a atinge. Jorge e Lídia é que estão no carro.
Jorge se assusta e Lídia se impressiona.
-Você ficou maluca? Presta mais atenção!
-Calma, Jorge. Ela se precipitou.
-Ah, eu não tenho paciência com certas coisas.
-Fique calmo.
Keysha olha para Jorge e Lídia e fica sem graça. Ela então termina de atravessar a avenida. Jorge e Lídia continuam seu caminho.
Após atravessar as avenidas, Keysha está do lado das quadras 700. Ela vai para a parada mais próxima e espera pelo ônibus com a inscrição “Grande Circular” para ir embora para sua casa, na Asa Sul. A garota se vê sozinha na parada e sente mais frio ainda. Keysha sente desanimada com o dia que teve:
-Droga... não acredito no que fiz. O Erick se aproveitou de mim. Não foi com amor. Se aproveitou de uma distração, de um momento que eu estava fora de si! Como eu sou burra! Eu quero ir pra casa! Desde que acordei, só coisas ruins têm acontecido.
Keysha fecha os olhos e bate sua cabeça de leve no muro da parada como quisesse se punir. Alguém então coloca a mão em seu ombro. Keysha se assusta.
-Calma, fofaaa. – fala Khrysthyanne Andrielly.
Keysha fica aliviada ao ver a travesti, que já está arrumada para fazer seus programas.
-O que foi? Ta tentando abrir a cabeça pra ver se tem algum cérebro aí?
-Hoje eu não to legal. Só aconteceu merda.
-De onde cê ta vindo? Não me diga que lá da casa do “playboy fracassado”?
-Quem é esse?
-Hum, hum, hum... ora, queridaaaa, fala isso como se não conhecesse a maricona chamada Rody...
-Ah... to vindo de lá mesmo. Mas não quero me lembrar.
-O que aquela viada aprontou contigo? Olha que eu vou lá dar na cara dela!
-Não foi ele. Foi o Erick. Ele só me usou...
-Ih, homens são todos iguais, minha flor. Não tenta entender eles, ta? Por que você acha que eu sou louca varrida e to jogada às traças aí?
-Estou decepcionada.
-Se joga, linda! Balança a peruca e veste a roupa! Seja você mesma! E outra: não seja amiga do playboy fracassado. Aquilo ali é perdição pura!
-O Rody é meu amigo de baladas...
-Aquilo ali ta mais pra bicha forrozeira! Depois procura lá no “youtube” o “forró do viado”. Igualzinho ao playboy fracassado.
Nesse momento, o ônibus de Keysha se aproxima.
-Foi bom falar contigo. – se despede Keysha.
-Arrasa, gata! – grita Khrysthyanne Andrielly.
Keysha entra no ônibus e acena para Khrysthyanne. A garota escolhe um assento no fundo do ônibus e encosta a cabeça na janela. Um pouco do passado vem à tona em sua cabeça. Keysha era uma garota como todas as outras. Seu brilho eram suas notas boas na escola. Isso despertava a inveja de muitos e o interesse de outros. Por ser tão dedicada, ela não tinha controle de sua vida e, por isso, acabava sendo ridicularizada e manipulada pelas outras pessoas. Mas ela tinha que mudar...
O ônibus está perto da parada onde Keysha irá descer. A garota dá o sinal e desce. Há muitos estudantes universitários esperando o ônibus para voltar pra casa. Hoje a aula durou pouco por causa de uma reunião que todos os professores iriam ter. Keysha desvia de algumas pessoas e se depara com Pedro.
Nesse momento, Pedro dá um beijo no rosto de Luciana. A garota entra no ônibus que irá para a cidade-satélite chamada Samambaia. Pedro dá um sorriso e acena para sua amiga de faculdade. Embora não façam o mesmo curso, eles se tornaram amigos depois de terem se conhecido na sala de informática.
Pedro volta o seu olhar pra frente e vê Keysha. Seu sorriso murcha e ele fica sério. Keysha respira fundo e olha dentro dos olhos do rapaz. A garota então sai do tumulto e segue em direção à sua casa. Pedro olha as horas em seu relógio.
-Ainda está cedo... – fala o rapaz.
O universitário corre atrás de Keysha e fala:
-Espera!
Keysha fica parada, mas ainda de costas. Pedro pega em seu braço e a encara.
-Hoje sim é que eu vou ter uma conversa com você.


>>>> (continua...) <<<<

*Imagem ainda não disponível.

**Link do Youtube que
Khrysthyanne Andrielly recomendou a Keysha (forró do viado):

http://www.youtube.com/watch?v=cAvdHEDlPS0

***Música que estava na mente de Keysha durante todo o seu percurso:


Lady GaGa - Poker Face

Capítulo 12 - Fera ferida


Capítulo 12 - Fera ferida


Rody se remexia ao som de uma batida forte. Olhava uma garota que dançava sensualmente e sentia que a noite ia render com a ninfeta. Erick estava perto e bebia vodca enquanto dançava com uma garota. Rody fecha os olhos e balança a cabeça. Ao abrir os olhos novamente e olhar para sua esquerda, ele para e fica estático. Seus olhos arregalados não acreditam no que veem.
-Não to acreditando que é ela! - pensa, sem saber o que fazer.
Keysha, Keith e Khrysthyanne Andrielly se aproximam. Erick parece não ter notado ainda a presença das garotas e segue dançando sensualmente com uma garota.
-Rody, olha quem eu achei no banheiro! - diz Keysha com entusiasmo.
-Oi, Keith. Beleza?
-Beleza, idiota!
O rapaz nem nota que Keith o provocou. Ele olha pra Keysha e finge não perceber que Khrysthyanne Andrielly se encontra em sua frente.
-Idiota, essa é uma amiga que acabei de conhecer, mas que já considero.
Rody olha para Khrysthyanne Andrielly com um pouco de receio e espera alguma atitude dela.
-Olá, coração! Tudo bem? Eu me chamo Khrysthyanne Andrielly, mas pode me chamar de Senhora Khrysthyanne Andrielly!
-E aí... beleza?
Ao esticar a mão para a travesti, o rapaz é discretamente puxado, como se Khrysthyanne Andrielly quisesse beijá-lo. Ao encostar em seu rosto, ela diz discretamente:
-Você por aqui, bicha?
-O que é que você ta fazendo aqui?
A travesti é irônica e dá um sorriso. Nesse momento, Erick se aproxima e é apresentado a Khrysthyanne Andrielly. Ao finalizar as apresentações, o rapaz passa o braço pelo ombro de Keysha, tentando abraçá-la, mas é brutalmente repudiado. Ele olha para a moça, que finge nada ter acontecido.
Todos começam a dançar agora mais lentamente. Eles fazem uma rodinha de amigos e se distraem olhando para o restante da boate. Keysha se distancia do grupo e vai para onde estava mais cheio. Ela lembra que veio para “causar” e dança loucamente rodeada por cinco rapazes.
-Bom, crianças, eu vou ali falar com umas amigas e daqui a pouco estou de volta! - fala Khrysthyanne Andrielly.
-Tá bom, amiga. Olha, eu adorei te conhecer, quero sair muito com você! - diz Keith.
-Claro, linda! Temos muito o que conversar. – diz a travesti, olhando para Rody.
O rapaz engole a atitude a seco.
Após Khrysthyanne Andrielly deixar a turma e se juntar às outras travestis que estavam em um canto da boate, Rody se sentiu mais solto. Mas não tão solto quanto antes.
-E aí, idiota! O que tá rolando de bom por aqui?
-Você, garota TPM! É a mais boa de todas!
-Babaca! Não sabe nem cantar uma mulher!
Após o comentário, Keith puxa Rody e os dois dão um beijo selvagem na pista. Keysha, que dançava alucinada, voltou sua atenção alguns segundos para a cena e fez uma cara como se quisesse dizer: “louca”.
Rody e Keith então “se pegam” durante a festa. Porém o rapaz não tira os olhos de Khrysthyanne Andrielly, que é sarcástica jogando beijos e piscando para ele. Após alguns minutos, ele sai das garras de Keith dizendo que vai ao banheiro. A moça o solta e, ao passar pelas pessoas, ele encosta a boca no ouvido de Khrysthyanne:
-Me espera na parada hoje.
A travesti finge não ter ouvido e continua fofocando com as amigas e dançando. Rody então volta para os braços de Keith, que finalmente deu uma trégua do asco que diz sentir pelo rapaz. Ele aproveita o momento.
Keysha deixa a pista de dança e vai ao banheiro aspirar um pouco mais de pó para ter mais barato ainda. A moça segue de volta entre a multidão, porém alguém segura seu braço:
-O que você quer? - grita.
-Puxa, guria, para de dar uma de difícil. - fala Erick, que ainda segura o braço de Keysha.
Rody beijava Keith, quando Nathan chega gritando:
-Ô Rody, a Keysha tá descendo o cacete no teu brother!
O DJ para a música e com isso dá para ter a noção do quanto a garota com seus cabelos rosa grita:
-Desgraçado! Vagabundo! Filho da Puta!
Erick permanece bêbado no chão, com as roupas rasgadas. As marcas de unhas se estendem por pescoço, braços e barriga.
Rody e Keith tentam tirar Keysha de cima do rapaz. Ela perdeu totalmente o controle e o ódio nos seus olhos são bem evidentes.
Após algumas tentativas, Rody consegue segurar Keysha. Keith e Nathan levantam Erick e o tiram dali. Ao passar por duas garotas, Keith consegue escutar:
- A Leila disse que não quis mais ficar com ele porque ele já chamou pro motel de cara!
-Não acredito! Deve ter chamado essa do cabelo rosa também!


No lado de fora, Rody decide que todos devem ir para a casa dele, para acalmar os ânimos. Porém, Keith diz que irá seguir com seu carro para casa. O rapaz não insiste. Nathan também segue com os amigos para outro rumo.
Em seu apartamento, Rody tenta estabelece um diálogo. Erick já se recuperou e Keysha parece ainda brava. O rapaz segue com o amigo para um quarto e o joga na cama.
-Keysha, pode dormir naquele outro quarto ali.
-Preciso tomar um banho. - diz a moça.
-O quarto é uma suíte. Divirta-se!
-Desculpa por tudo, Rody, mas é que o Erick é um idiota! Quero que ele morra!
-Relaxa. Olha só, eu vou dar uma saída agora, mas daqui a pouco to por aqui, beleza?
-Beleza. Vai lá.
-Tchau!
O rapaz desce o prédio um pouco tenso e segue com seu carro rumo à avenida W3 Norte. Perto das cinco da manhã, o rapaz observa que a cidade se encontra deserta. Somente algumas pessoas que, em sua maioria, são garotas de programa ou travestis. Faz frio e através do parabrisa ele vê uma neblina densa.
Ele para o carro na parada onde Khrysthyanne Andrielly faz seu ponto todas as noites. Ninguém por perto. O rapaz fica preocupado, mas decide esperar. Apenas barulhos de grilos cantando e alguns carros que esporadicamente passam na avenida. Após 22 minutos, o rapaz acende os faróis e decide ir embora. Ao olhar para frente, Khrysthyanne Andrielly surge com uma postura de diva.
-Olá, querido! Quanto tempo não?
-Nossa, você veio voando? Não vi você chegando!
-Claro, amor. Sou uma borboleta!
O rapaz sorri e abre a porta do carro. A travesti entra.
-Para lá nas bichas do Setor Comercial Sul e dessa vez te furo de verdade!
Rody sorri.
Os dois seguem para um lugar escuro e aproveitam bem o programa...
Alguns minutos depois, Rody e Khrysthyanne descansam e conversam um pouco:
-Então, quer dizer que agora você conhece minha brother, né?
-Pois é, colega! Você me achou, eu te achei!
- Eu não quero que fique de piadas comigo quando estiver na frente dos meus amigos. Se fizer isso, eu te mato!
-Noooossa! Com essa até o meu laquê desmanchou! To com tanta medinha de você, amor!
-Eu odeio você!
-Vou vender meu travesseiro de tão arrasada que fiquei! Te manca, bicha!
-Olha, eu não quero saber de problemas ok?
-Problema? Eu sou a solução, querido! E, falando sério, não me interesso nem um pouco por você. Eu te dou... você me paga... e pronto!
-Me beija!
Rody foi para cima de Khrysthyanne Andrielly, que o surpreendeu com uma bolsada na cara:
-O programa já terminou, filho! Me deixa na minha parada, me dá a grana e suma da minha vida!
-Você me enlouquece com essas coisas, sabia?
-Ô bem, toca essa carroça que tá na hora do meu sono de beleza!
O rapaz segue de volta. Ao parar na parada de Khrysthyanne Andrielly, ele a admira indo embora. Após pegar uma distância, a travesti olha pra trás e dá dedo para o rapaz. Ele sorri e continua observando.
De volta ao seu apartamento, Rody se encontra exausto. Pensa agora em toda confusão armada na boate. Durante o banho, ele pensa em Khrysthyanne Andrielly e em Keith. Lembra dos beijos na loira e na transa com a travesti, coisa acabara de acontecer. Ainda havia o cheiro dela em seu corpo. Seu perfume era forte e marcante.
Ao sair do banho, Rody se seca, veste uma roupa e anda pela casa procurando o que fazer. Foi uma noite muito intensa para simplesmente se deitar. Embora já fossem nove da manhã, o rapaz não estava cansado. Se sentia revigorado. Ele segue para a cozinha e faz café. Dá uma rápida lida no jornal enquanto degusta o líquido marrom.
Quando finalmente se dispõe a dormir, Rody passa no quarto de Erick para checar que está tudo bem. Ao abrir a porta, nota que a cama se encontra vazia. Apenas lençóis amarrotados.
-Não acredito que aquele pilantra foi embora daquele jeito! - sussurra.
Ele segue para o quarto de Keysha, enquanto decide se conta para a moça que Erick se foi, rasgado e machucado, ou se apenas checa se a moça também se foi. Ao abrir a porta do quarto, uma surpresa: Keysha se encontra nua na cama, enquanto Erick, também nu, a envolve em seus braços. Colocando a mão na boca para não fazer barulho com a surpreendente cena, Rody nota que Keysha permanece dormindo, porém, Erick abre os olhos e faz sinal de positivo para o amigo.
-Vagabundo... - diz Rody, em voz baixa.
Erick dá uma risada sarcástica.
Rody balança a cabeça sorrindo e fecha a porta.


>>>> (continua no final da semana!!!) <<<<

*Foto provisória!

**Música que tocava na boate na hora em que os amigos se encontraram:


Rihanna - Disturbia

Capítulo 11- Amores e acasos


Capítulo 11- Amores e acasos

Naquela semana, tudo parecia mais colorido, ainda mais quando o celular tocava. Lídia parecia não ter saído do dia em que conheceu Jorge. Sentia-se dentro do mesmo shopping, com as flores em sua direção e Jorge as oferecendo. Embora não tenha acontecido nada além de uma conversa naquele dia, a moça estava envolvida. E sentiu a mesma reciprocidade do rapaz.
-Eu merecia isso. E o Jorge também. - pensava Lídia.
Nem mesmo as investidas de Carolina em uma nova confusão abalaram as estruturas da apaixonada professora. Jorge sempre ligava no fim do expediente, e tudo parecia renovado, mais colorido. Carolina parecia não existir mais, isso frustrava a garota. E dava um novo fôlego na vida de Lídia. Mas essa lembrança do primeiro encontro não se tornava a única naquele momento.
Em um famoso barzinho na 406 Norte, com uma cerveja em sua frente e de olho no estacionamento, Lídia via seu amado descer do carro. A noite estava fria e o vento gelado balançava umas mechas de seus cabelos escuros. Mas a presença de Jorge trouxe calor àquele momento. Ela percebia todo o movimento do rapaz fechando a porta de seu carro, arrumando sua jaqueta e procurando-a. Quando seus olhos se encontraram, sorriram e então Jorge subiu as escadas do barzinho com mais confiança. Ele veio com um semblante tranquilo e receptivo:
- Demorei?
-Não. Acabei de chegar. Sente-se.
Jorge deu um beijo no rosto de Lídia, pegou a cadeira que estava em sua frente e sentou-se ao seu lado. As mãos de Lídia gelaram e seu coração batia forte.
- E aí? Como foi o seu dia?
- Foi tranqüilo. E o seu?
-Corrido. Estamos fazendo auditoria em uma conta bancária. Estamos desconfiando de lavagem de dinheiro. Mas o pai do rapaz que é dono da conta é poderoso. Por isso tem que haver cautela.
-Ah sim...
- Mas isso não importa. O que me importa agora é que estou feliz por estar aqui.
Jorge puxou e segurou o rosto de Lídia. Ela não ofereceu nenhuma resistência e a partir daí milhões de palavras foram ditas sem ser pronunciadas. Todo o desejo e felicidade dos dois se expressavam ali, diante de todos que estavam no bar. E eles estavam viajando. Juntos. Não foi um beijo qualquer. Foi um beijo guardado. Guardado há dias. E agora ele estava ali, unindo o que já estava unido. Dando certeza às impressões. Dando sentimento e calor à noite fria. O casal estava em uma outra dimensão. E nada mais importava naquele momento. Só o calor e o desejo. Lídia se sentia forte e invencível. Desejada. Jorge se sentia livre. E, em meio às pessoas, uma linda cena de um forte beijo se fazia presente.
Após o longo beijo, Lídia encostou sua cabeça no ombro de Jorge, que a abraçava, e disse, ainda ofegante:
- Obrigada por tudo. Você tem me feito muito bem.
- Eu que agradeço. Depois que eu te conheci, me sinto muito melhor. Você me transmite tranqüilidade de verdade.
Lídia sorriu.
Depois desse fato, os dois já agiam como namorados, mesmo sem ter havido o pedido oficial. Parecia não haver casal mais apaixonado naquele ambiente. Os dois se completavam e se olhavam com muito carinho.
Após algumas horas de conversa, se despediram com um beijo, e Jorge acompanhou Lídia até seu carro. Após vê-la partir, o rapaz pega seu carro e sai pela cidade, cantando uma música alegremente. Algumas pessoas estranham ao passar por ele, pois não contente em cantar, o jovem dança também. E as luzes do Eixo servem de palco para a apresentação. Seu carro vai deslizando na pista e o rapaz acena pra quem olha e aponta cantando a música, como se estivesse cantando para um fã. Ele se remexe no banco de uma forma engraçada, porém gostosa de ver.
E assim Jorge pega a estrada, rumo à sua casa. Até seu carro parece dançar.


A mesma música que tocava no carro de Jorge ecoa agora do quarto de Keysha. A garota está pronta para sair e Erick já ligou. A garota se balança ao som da música e pensa na noite que vem pela frente. Faz planos e se diverte imaginando inúmeras possibilidades. Chegando mais perto do espelho e caprichando na pesada maquiagem nos olhos, a garota lembra de Pedro, sentindo raiva devido ao último acontecimento.
-Babaca! - diz.
Quando a música acaba, a moça ouve batidas na porta:
-Keila! Estão te chamando!
-É Keysha, mãe! Avisa que eu to saindo! - grita a garota.
Após alguns minutos, tudo certo na checagem final de roupas, acessórios, maquiagem e cabelos, Keysha sai de dentro do quarto. Sua mãe se espanta por vê-la arrumada:
-Já vai pra gandaia?
Ela dá um beijo na mãe e vai saindo.
-Beijo, mãe. Daqui a pouco estou em casa.
Sua mãe se senta novamente de frente pra TV.
Keysha entra no carro, dá um selinho em Erick e fala com Rody, que está ao volante. Os rapazes vão na frente e a moça vai atrás, dando uma última conferida no batom e na maquiagem. No carro que os segue, está Nathan, uma moça e mais um amigo atrás.


Do banco da frente, Erick leva seu braço para o banco de trás e alcança a perna de Keysha. Ele olha para a moça e alisa sua perna. Ela apenas sorri e permite. Keysha olha as luzes da cidade. E isso a faz viajar. Não observa o caminho, apenas as luzes. Em sua cabeça passam milhões de pensamentos, e mais uma vez Pedro. Ela torce a cara e vê que Rody a observa.
-Hein, guria! Cadê a sua amiga revoltada? - pergunta o rapaz.
-Ela disse que talvez apareceria na boate hoje. Mas não é certeza, pois estava esperando a ligação do namorado.
- Ela curte um coroa, né?
Keysha fez que sim com a cabeça.
-O lance é grana! - exclama Erick.
-Mas isso eu tenho.
-Mas ela quer grana sem ter que transar pra isso! Há, há, há!
Keysha interrompe o papo:
-Olha só, vamos mudar de assunto? Não quero ver vocês falando da Keith na minha frente!
-Falou a dama ofendida! - provoca Rody.
-Ela é minha amiga, tudo bem?
-Perca seu dinheiro e vai ver se sobra um amigo...
Erick olhou sério para o amigo. Parece ter se sentido incomodado com o comentário de Rody.
-Que dinheiro eu tenho? – diz a moça.
-Mas você tem fama. Entra nos lugares de graça! Pessoas também sugam os populares.
Erick agora parece estar indiferente aos comentários.
Keysha se cala e continua observando as luzes que passam pelo caminho.
-Olha só galera! Vamos deixar de papo mole! Erick, bola um aí pra gente.
O rapaz se anima e prepara o cigarro de maconha.
-Vamos, galera, que a noite é nossa! - anima Rody.
Keysha olha pra trás e vê o carro de Nathan bem próximo.
-Esse seu amigo é gente boa, Rody! – comenta a garota.
-Keysha, o cara é brother!
-Imagino.
Eles fumam o cigarro de maconha e conversam sobre coisas triviais no restante do caminho.
Ao chegarem no escuro Setor de Oficinas Sul, estacionam o carro, descem e escoram no veículo, enquanto Nathan estaciona o seu. Rody levava algumas garrafas de Vodca e todos compartilhavam, entre cigarros.
Nathan desce do carro, parece animado:
-E aê, rapêize!
-Fala, Nathan! De boa?
-De boa.
Erick olha pra Keysha e, ao se virar para Nathan, pergunta com um tom irônico:
-E o rapazinho apaixonado da sua faculdade? Não trouxe ele pra dar mais um show pra gente?
-Ele tá apaixonado eu acho. Só vive atrás de uma menina de lá da facu.
Erick olha pra Keysha e vê que a garota sentiu um incômodo com a informação. Talvez para que Keysha esquecesse o que Nathan havia acabado de dizer, Erick a puxa e a beija. Todos fingem não ver e continuam conversando.
A boate estava lotada. Como sempre. Todos dançavam animadamente e o grupo de amigos foi adentrando o ambiente. Tudo parecia fazer sentido agora, com a magia dos neons agindo sobre seus corpos e a batida da música fazendo todos se sentirem muito animados. O celular de Keysha tocou e era Keith. A garota ainda tentou falar, mas não conseguiu ouvir o que a amiga dizia. Após alguns minutos dançando, eis que o celular vibra novamente. Ela vai a um lugar mais calmo e atende, mas sem sucesso. Não conseguia ouvir nada. Ao se voltar para sua turma, a moça de cabelos rosa repara que Erick dança voltado para uma garota. Ele parece já estar bêbado. Ela vê aquilo e começa a dançar sozinha. Nathan conversa com a moça que veio com ele. O amigo de Nathan está no bar comprando bebida. Rody dança como um louco. Keysha aproveita a distração de todos e cumprimenta as pessoas que conhece no ambiente.
As pessoas fazem questão de Keysha. Conversam com ela, chamam-na para estar por perto. Mas a garota sempre recusa. Raramente da o ar da graça para alguma turminha que a admira. Geralmente está com Rody e Erick, ou Keith. Por falar em Keith, o celular parou de tocar.
-Acho que ela ligou pra avisar que não vem. – pensou Keysha.
Mais uns minutos dançando e abraçando algumas pessoas e ela decide ir ao banheiro dar uma checada na maquiagem. Sai em meio à multidão, esbarrando em uns e desviando de outros. Todos estão eufóricos.
Ao adentrar o banheiro, a moça para em frente ao espelho e observa que a maquiagem do olho esquerdo está um pouco borrada. Ela chega mais perto do espelho para ver melhor. Eis que Keith sai de dentro de um dos box:
-Ah, safada! Eu to que ligo no seu celular!
-Oi! ,Caramba tava o maior barulho! Eu não te ouvia!
As duas se abraçaram.
-Vamos, Keith, os meninos estão aí.
-Vamos, amiga.
Ao passar da porta do banheiro, Keith segura a amiga:
-Amiga, só um momento que eu to com uma amiga que conheci aqui! Ela é super gente boa.
-Ah, beleza!
-Olha ela ali no bar. Vamos lá.
Keysha observa a nova amiga de Keith e vê pelas roupas e pela altura, que não se trata exatamente de uma mulher:
-Aqui estamos! - diz Keith.
-Oi! Eu sou a Keysha! Tudo bem?
-Oi, linda! Prazer, eu me chamo Khrysthyanne Andrielly, ao seu dispor.
Keysha sorri.


>>>>(continua no final dessa semana!)<<<<<

*Na foto, o mais novo casal romântico de Brasília: Jorge e Lídia!

**Música que animou Jorge após seu encontro com Lídia:

Led Zeppelin - Immigrant Song

Capítulo 10 - Reflexões, realidade e afins


Capítulo 10 - Reflexões, realidade e afins


Durou em média dois minutos do momento em que seus olhos se encheram de lágrimas até o choro sentido. Vendo aquele vídeo, Luciana se compadeceu com uma situação que não tinha visto com tanta veracidade e sentimento antes. No refrão, as crianças africanas cantavam com muito sentimento. Nesse momento, Luciana pediu perdão a Deus por todas as vezes que reclamou da vida. Tudo parecia tão pequeno diante daquelas imagens. Sua atenção se dividia entre a emoção do vídeo e o medo de alguém adentrar a sala de informática e vê-la chorando. Doía ver aquelas pessoas, que possuíam a mesma cor de pele sua, morrendo de fome, catando comidas no chão, chorando com seus filhos magros pendurados em seus corpos.
Pedro entra na sala e avista a cena. Para por alguns instantes e vai em direção à moça:
-Ei, moça, tá tudo bem?
Luciana faz sinal e Pedro se senta. Sem dizer nada, ela volta o vídeo e o rapaz assiste. A cada imagem seus olhos ficam mais atentos e mais úmidos. Nesse momento, ele pensa em Keysha e no quanto é egoísta com todo esse sentimento. Não entende nada sobre dor, sobre problemas. E sentiu vergonha por ter saúde e por viver nesse mundo tão injusto. Mas foi no momento em que o vocalista cantou “Heaven’s cry, Jesus cry” que o rapaz não se conteve. Luciana o abraçou e, ao se olharem, souberam que, por mais singelo que fosse aquele momento, seria inesquecível e que dali algo maravilhoso nasceria.
Passado o momento de lágrimas, com a cabeça no colo da moça, Pedro, com voz chorosa, diz:
-Qual é seu nome?
-Luciana, e o seu?
-Pedro.
Silêncio.
Passados alguns minutos os dois se levantam e saem juntos da sala. Ainda nos corredores, discutem sobre a situação social e política da África, sobre o massacre de Ruanda, e sobre várias outras coisas que envolvem o continente.
-Tenho uma amiga que só reclama da vida, de tudo. Nada tá bom pra ela. Ela deveria ver isso.
-Luciana, as pessoas têm essa mania. Só dão valor ao que não tem.
-Temos que rever nossos conceitos né?
-É.
-Pedro, foi um prazer enorme te conhecer.
-O prazer foi meu.
Os dois trocam beijos no rosto, telefone e saem para suas salas mais aliviados e felizes por terem se conhecido. Pedro viu em Luciana uma grande amiga em potencial. Luciana não tinha pensado nada até o momento. As fotos e a música ainda ocupavam todo o espaço de sua mente.
Luciana é uma garota de classe média-baixa, que reside na cidade satélite de Samambaia. Conheceu o trabalho desde cedo, dividia sua tarefas com muito esforço e sempre alcançou seus objetivos, mesmo conciliando trabalho com estudo. Sempre fora assim, desde que se entende por gente. Tem cinco irmãos, quatro homens e uma mulher. Seus irmãos não pensam em progredir profissionalmente e não ajudam em casa, então ela sempre soube o que é ter responsabilidade. Sendo solidária à mãe, apesar de cobrar acirradamente uma postura mais protetora da parte dos irmãos, sempre segurou as rédeas enquanto esperava esse milagre acontecer. Mas até mesmo essas dificuldades pareciam não ser nada diante do que havia visto a pouco.
Pedro ainda pensava no acontecimento interessante, porém, dividia suas atenções entre os pensamentos e a aula. Fora isso ainda havia o fato que se passou na orla do lago Paranoá, no qual, por um lado positivo, Nathan havia se aproximado mais do rapaz, porém ele sabia que ia ter que encarar Erick, Rody e... Keysha! Como isso o torturava! Como pôde colocar tudo a perder? Uma pequena parte dele sentia alívio, por ter sido espontâneo, mesmo bêbado. Mas a maior parte sentia vergonha. E medo. Medo daqueles cabelos rosa e da áurea que fez a Keysha se apossar da doce Keila. Seus pensamentos agora iam para Luciana. E para a África. voltavam para a Orla. E assim foi até que a viagem foi interrompida pelo professor:
-Então, prova na próxima aula.
-Putz! - Pensou.


Já eram dez da noite quando as últimas lojas da quadra 407 da Asa Norte fechavam suas portas. Porém o trânsito ainda estava frenético. Alguns ambulantes se encontravam na fria noite, com seus casacos e toucas, atendendo os clientes e tentando se aquecer com as mãos no bolso. Havia ali um quiosque que vendia churrasquinhos, onde alguns moradores e funcionários de empresas ao redor iam acompanhados e seguindo aquele cheiro, que parecia irresistível. Eles conversavam entre si sobre o clima e outras coisas. Alguns observavam a conversa dos outros e a noite seguia. Keith, de seu quarto, observava toda a movimentação, enquanto pouco se importava com o que passava na TV, que se encontrava ligada. Observando coisas simples que as pessoas faziam, seu pensamento vagava sobre o que é e sobre o que poderia ter sido. Por um momento, imaginou seu pai por perto, enquanto via um homem com seu bebê passando na avenida. Quem seria ele? O que teria acontecido? O que seria verdade em toda a sua história e o que não seria? Sua mãe, que agora se encontra internada em um hospício não muito longe dali poderia ter lhe faltado com a verdade durante seus relatos. Ou talvez não. Ou talvez ela sempre fora “louca”. Ou talvez tenha enlouquecido com as pressões da vida. Tudo parecia muito incerto e impossível. Chegou por um segundo a pensar em desistir da vida que leva e tentar ser ela mesma. Simples.
-Devo estar ficando louca!
Reginaldo era seu namorado. Mas o que na verdade Keith buscava naquele senhor, de barba branca e com cabelos ralos era uma proteção de pai. Uma proteção que jamais conhecera. E por não ter tido presença masculina em sua criação, não confiava em homens. E admirava a força das mulheres. Falando em mulheres, que incógnita! Desde que sua mãe foi internada, a moça foi visitá-la umas três vezes. A última tem mais de dois anos. Então, ao pensar nisso, via as mulheres com força e fraqueza ao mesmo tempo. Apreciava o fato de dominar os homens justamente por não se deixar envolver por completo. Quantos já haviam chorado ao seus pés?
Tirando o esmalte da unha e ainda recostada na janela, a moça pensou em todos os homens que amou em silêncio, e em todas as mulheres também. Todas as vezes que esperou e nada aconteceu. E nas vezes em que não esperou e algo mudou sua vida. Ela desvia a atenção da unha e consegue ver seu carro, um presente de Reginaldo, no estacionamento.
-Ai, chega de pensar bobagens!
Deitou-se.


-Como a água de Brasília é diferente! - pensou Anderson enquanto dava um gole em frente à geladeira, no meio da noite. Os rapazes que dividiam o apartamento com ele roncavam quebrando o silêncio do local. Conseguia ouvir também algumas pessoas transitando pelos corredores do prédio. Se deitou e refez toda a cena da festa em sua mente. Cogitando todas as possibilidades e até mesmo a mais corajosa: sendo bem direto com Jéssica. Mas o que tem foi o que aconteceu de fato. E não sabia qual reação a garota teria da próxima vez que o visse. Esperava que ela fosse compreensiva e continuasse sendo cortês com ele. Mas também havia a possibilidade de ser ignorado pela moça. Recém-chegado na cidade, Anderson tinha receio da aceitação das pessoas, visto que não sabia como era o comportamento típico das pessoas dali. E quanto mais amigos fizesse, mais poderia compreender tudo, uma vez que tem uma personalidade extrovertida, porém sempre cautelosa. Mas a moça tinha sido tão bacana e receptiva com ele. Isso o deixava com dor na consciência, que só passou quando um pensamento válido tomou conta dessa questão: justamente por ela ter sido tão bacana, ele deveria, mais do que nunca, agir com sinceridade com ela.
-Arre égua! Que povo diferente! - pensou, enquanto ouvia o ronco dos amigos.
O rapaz pensou nos costumes de sua região natal, dos amigos que conquistou, sua família. Relembrou momentos que se passaram, comparando a atitude de Jéssica com prováveis atitudes de outras pessoas que conhecia. Começou a cogitar milhões de situações e pessoas no mesmo ambiente, revisitou os locais de Brasília em sua mente, até que adormeceu.


Para muitos, pouco tempo se passou, mas para Khrysthyanne Andrielly durou muito tempo até que se estabeleceu no ponto onde se encontrava agora. Foram muitos dias forçando a barra com Rebecca e Jennifer, para conquistar a amizade delas e dividir a parada de ônibus na 714 norte. Até isso acontecer ficava perambulando sem um ponto fixo. Isso faz com que os clientes sejam mais escassos. Com isso o dinheiro vai faltando e as contas tirando cada vez mais seu sono. Mas todo esse pensamento saiu de sua cabeça quando, sentada na parada, a travesti admirou sua bota preta de couro, que ia até o meio da coxa, combinando perfeitamente com o micro vestido, também de couro preto. Ela se sentia confiante com o traje e não se importa com o frio e os fortes e gélidos ventos que assoviam em seus ouvidos. As árvores da avenida balançavam seus galhos freneticamente e exalavam um cheiro agradável, que tomava conta da avenida. Khrysthyanne Andrielly emanava confiança e petulância para os carros que passavam, jogando beijos e fazendo poses. Por um momento ela se olha no espelho para retocar a maquiagem:
-Gostosa! - disse para si mesma.
Enquanto retocava o batom com muita concentração, um carro se aproximou com os faróis altos e em baixa velocidade. Khrysthyanne se aproxima, e ao abaixar na janela, se surpreende com o motorista:
-Eu sabia que ia te achar de novo!
Rody dá um sorriso sacana e a travesti se anima:
-Quem é vivo sempre aparece, né, bicha?
-E aí, ainda tá o mesmo preço?
-Pra você é mais caro, amor, porque tem muita emoção e risco!
-É assim que você gosta que eu saiba!
-Já disse que quero morrer velha e linda!
-Linda você já é...
-Colega, eu não estou nessa parada esperando meu grande amor, vamos ao que interessa?
-Entra aí.
Khrysthyanne faz um ar de superior e adentra o carro, que segue a avenida W3 Norte rumo à rodoviária. Após alguns minutos, Rody quebra o silêncio do carro:
-Tava pensando em um programinha a três, você tá afim?
-Querida, aí a grana vai ter que ser dobrada! Se for com aquela bicha motoqueira da última vez, eu triplico o preço!
-Relaxa, vai ser legal.
Rody pega na coxa de Khrysthyanne e aperta com sofreguidão. O rapaz está animado com o fato de estar com a travesti e mais uma pessoa:
-Essa noite promete!
-Estou tão empolgada... - fala a travesti com desinteresse.
Khrysthyanne Andrielly agia como se pensasse: “que horas isso vai terminar?”. Porém essa atitude logo mudou quando Rody faz o retorno e desce para o Setor comercial Sul. Ele aumenta os faróis e adentra o setor. Khrysthyanne fica imóvel por alguns segundos sem acreditar no que está acontecendo, porém é preciso alguma atitude rápida, pois ao avistar Carla, a travesti do quepe de policial, Rody diminui a velocidade.
-Fodeu! - sussurra a travesti.
Vendo que a velocidade do carro está diminuindo e que Carla se aproxima entre os altos faróis do carro, a travesti tira um canivete da bolsa e encosta da barriga do playboy:
-Ou você arranca com essa lata velha daqui, ou vai virar purpurina!


>>>> (continua na próxima semana!!!) <<<<

*Na imagem, Keith em uma das entrequadras da Asa Norte!

**Música que tocou profundamente Pedro e Luciana:

Wyclef Jean - A Million Voices

Capítulo 9 – O amor está no ar!


Capítulo 9 – O amor está no ar!


Os dias frios vão chegando lentamente a Brasília. As noites são mais longas e o início desse período conta com chuvas muitas vezes pesadas que costumam a alagar algumas partes da cidade. Não é difícil ver pessoas saindo de casa para o trabalho com suas jaquetas ou blusas de frio, tirando ao longo do dia e voltando a usar no início da noite. O frio contrasta com o tempo seco e pessoas mais vulneráveis sentem os efeitos na pele como boca ou pés rachados.
Pela manhã, Lídia sai com antecedência de sua casa na Ceilândia e logo enfrenta um engarrafamento na via Estrutural. Os engarrafamentos do Distrito Federal são pequenos comparados a outras grandes cidades do Brasil, mas mesmo assim trazem dor de cabeça às pessoas. Depois de alguns minutos perdidos por causa de um pequeno acidente com moto, a professora de português pôde seguir caminho para a escola em que dá aula na Asa Norte.
Ao chegar na escola, a professora apressa-se. Já descendo do seu carro e mal fechando a porta, ela corre até a sala dos professores no térreo da escola, pega seu diário, seu apagador e seu giz e corre para a sala. Hoje é dia de prova para os alunos da 8ª série. A turma de Carolina, a aluna que não vai muito com a cara de Lídia, terá prova de orações subordinadas.
-Bom dia, turma. Arrumem as carteiras e tirem todos os materiais, deixando apenas lápis, borracha e caneta. Vocês vão ter esses dois horários para poderem fazer a prova. Está super fácil!
Após o aviso, Lídia abre sua pasta e começa a distribuir as provas. Após entregar a última prova, ela fala:
-Boa sorte!
A professora volta ao seu lugar e senta-se para preencher o diário. Após os dez primeiros minutos de prova, Carolina ainda não resolveu nenhuma questão e tenta olhar para a prova de sua colega ao lado. Ela aproveita a distração de Lídia e consegue colar as questões um e dois. Ao tentar olhar para a terceira questão, ela se assusta com a advertência da professora:
-Eu estou vendo cochichos e pessoas tentando colar... Vamos ter postura e saber que fazer prova não é algo mecânico... mas sim pra vida!
Carolina faz uma cara de decepção e até mostra o dedo para Lídia quando esta estava distraída. A aluna volta a olhar para a prova de sua amiga. Lídia pega o ato em flagrante desta vez:
-Carolina, a sua prova está na sua frente. Concentre-se nela.
A aluna se sente incomodada com aquilo e começa a colar na frente de Lídia. A professora se sente humilhada com aquela situação e decide se levantar. Ela vai até a carteira de Carolina e fala:
-Eu estou te pedindo, por favor, pra você não colar.
-Professora, volta pra preencher o seu diariozinho e me deixa em paz!
Os olhos de Lídia começam a lacrimejar e, num gesto de raiva, ela tira a prova da carteira de Carolina.
-Eu... eu vou falar pra direção da sua indisciplina, Carolina.
-Me devolve essa prova agora!
Os alunos param de se concentrar na prova e observam a histeria de Carolina. Todos ficam espantados com a atitude da colega de classe.
-Eu vou chamar o meu pai aqui! Você não tem esse direito! Devolve minha prova, sua doida!
Lídia começa a chorar com aquela situação e caminha para resolver o assunto com a diretora.
Passando-se alguns minutos, Carolina chega à diretoria onde Lídia e a diretora a esperam.
-Sente-se, Carolina. Eu quero saber o que houve.
-Diretora, a professora Lídia me maltratou e pegou com força no meu braço só porque eu olhei para o lado. Ela achou que eu tava colando e pegou a minha prova!
-Mas eu... – tenta Lídia se explicar, mas seu choro não a deixa.
-Isso é verdade, Lídia?
Lídia seca as lágrimas e, quando ia falar, o pai de Carolina chega na porta da direção. A professora se espanta com aquilo e observa que sua aluna é capaz de tudo.
-Eu vim saber o que houve com a minha filha! – fala o pai, cheio de autoridade.
Carolina se levanta e abraça o pai. Ela faz um falso choro:
-Pai, eu juro que não estava colando... eu juro!
-Você não me explicou direito por celular, filha. Mas eu vou processar essa escola e a professora por danos morais!
-Tente se acalmar, senhor. – fala a diretora – Tudo não passou de um mal entendido. Nós vamos deixar a Carolina continuar fazendo a prova numa sala separada. Ela não será penalizada.
-Assim espero!
O pai de Carolina a abraça e a chama para conversar em particular. A diretora chama Lídia, que estava chorando, e adverte:
-Tenha cautela da próxima vez em que for acusar um aluno. Não podemos deixar que essa gente deixe de freqüentar nossa escola!
Lídia se sente abandonada naquele momento e tenta disfarçar seu choro. Suas mãos tremem e ela procura um calmante em sua bolsa enquanto decide se levantar e lavar o rosto no banheiro.


Anderson chegou ontem à Casa do Estudante Universitário na UnB e nesse momento arruma sua bagagem na moradia. Junto com ele, mais dois rapazes dividem o apartamento no bloco B. Anderson organiza suas camisas enquanto os outros dois estudantes navegam na internet no notebook.
-Aqui em Brasília faz frio. Acho que eu vou ter que comprar blusa depois ah, ah, ah.
Os dois estudantes não olham para Anderson e continuam calados.
-Lá em Recife é tão quente que o calor daqui é fichinha pra mim. Minha mãe é que disse que eu vou sofrer nos primeiros meses. Meu pai riu desse comentário dela e falou para eu ser um “cabra macho”. É... acho que eu vou me acostumar... Vocês estão aqui há quanto tempo?
O silêncio se faz após a pergunta de Anderson. O calouro da universidade para um pouco e observa seus colegas de quarto. Parece até que eles fingiram que não escutaram.
-Ei, vocês dois! Vocês estão aqui há quanto tempo?
Apenas um se vira rapidamente pra responder, sendo bem curto:
-Três anos.
-Ah, ta... Achava que o gato tinha comido a língua de vocês. Pelo que vi, vocês, candangos, não costumam a falar muito.
-Ninguém aqui é candango. Somos do Paraná. E não chame os que nasceram aqui de candangos. São brasilienses. Eles não gostam.
-Ah, ta.
Anderson fica um pouco sem graça com aquela resposta meio estúpida do seu colega de quarto. Ele então continua:
-De qualquer jeito, acho que os brasilienses são muito frios. Não fazem amizade tão facilmente.
Anderson então entra no banheiro. Os dois rapazes se olham e balançam a cabeça. Nesse momento, uma universitária bate na porta. Um dos rapazes se levanta e abre.
-Gente! Ta rolando uma festa no “apê” da Pri. Ela ta convidando todo mundo! Bora? – fala a moça.
-Não sei...
-Deixem de ser morgados! Ta mó barato!
Nessa hora, Anderson sai do banheiro e a moça o avista.
-Vocês agora têm companhia?
-Opa, olá. Eu me chamo Anderson.
-E eu me chamo Jéssica. Tu é novo aqui, mas pode ir com a gente. Vamo se enturmar!
-Ir pra onde?
-Tá rolando uma festa aqui no segundo andar. Vamo!
Jéssica acaba convencendo os três a saírem do ambiente monótono e irem para a festa. Os dois colegas de moradia vão mais atrás e Jéssica segue com Anderson na frente.
-E aí, já conseguiu se enturmar com a galera?
-Eu to tentando, mas ta difícil. O povo daqui de Brasília parece que não gosta muito de amizade.
-Ha, ha, ha... o lance é que as amizades aqui surgem nos grupinhos, nas famosas “panelinhas”. Se você chega de repente, o povo estranha. Mas desanima não. Vamo lá pra conhecer a galera!
Jéssica pega na mão de Anderson e isso o deixa mais confiante. Isso sem mencionar o fato de a garota ter achado o calouro muito bonito. Ao chegar no apartamento de sua amiga Priscila, Jéssica já faz questão de apresentar os convidados. Anderson, no início, fica meio tímido, mas depois começa a se soltar. A música está alta e os universitários só pensam em dançar. Claro, não podia faltar bebida e todos se deliciam com um saboroso vinho. Há bebidas mais fortes, mas Anderson rejeita. O rapaz começa a despertar interesse em Jéssica com a sua habilidade de dançar.
Depois de algum tempo, Anderson se cansa e senta-se ao lado de Jéssica.
-Ha, ha, ha... que galera divertida. Tem razão, Jéssica. Acho que só assim que eu conheço melhor os cand... digo, brasilienses!
-É verdade. Deve ser “froids” se sentir meio sozinho...
-Ah, mas eu não tenho dessa não. Quem quiser chegar pra conversar comigo, se dá bem. Sou muito aberto. Adoro conversar!
Anderson bebe um pouco e Jéssica deixa se mergulhar no profundo azul de seus olhos. Ela sentiu algo diferente no primeiro contato com o rapaz. Seus pensamentos começavam a se agitar e os impulsos de seu corpo a queimavam por dentro. De repente, surge a hora perfeita: os universitários colocam uma música bem romântica para lembrar os velhos e bons anos 80.
-Vem, vamo dançar.
Jéssica puxa Anderson e os dois começam a dançar a música lenta. A garota deita sua cabeça no ombro do calouro e ele fica sem entender nada. Nesse momento, Jéssica concentra seu olhar bem fundo nos olhos de Anderson. Sua boca tenta se aproximar da dele... Anderson fica meio nervoso e desconsertado. Jéssica tenta aproximar seus lábios da boca do rapaz e ele tenta sair, mas ela o segura com os braços em volta de seu pescoço.
-Não, espera! – fala Anderson.
-O que foi? Não seja tímido...
Jéssica força a situação e encosta seus lábios nos de Anderson por meio segundo. O rapaz a tira com força.
-O que foi? – fala a garota meio espantada.
Anderson respira fundo e fala:
-Preciso ir! Eu não liguei em casa até agora! Meus pais devem estar preocupados.
Anderson deixa Jéssica só e sai da festa.


A tarde vai cedendo lugar para a noite em Brasília. A avenida W3 começa a ter seu trânsito intensificado por causa do final do expediente, alunos saindo da escola, alunos descendo na parada da faculdade, pessoas indo embora pra casa depois de um dia cansativo de trabalho... É nessas horas que as artérias da cidade mostram mais vida do que nunca.
Nesse momento, Keysha chega em casa após ter aula de inglês. Ela faz pouco barulho e já corre logo para o seu quarto. A garota de cabelos rosa tem uma surpresa ao chegar em seu quarto e ver sua mãe arrumando algumas coisas. Até escada perto do guarda-roupa tinha.
-Que bagunça é essa aqui no meu quarto?
-Oi, filha. Eu tava limpando em cima do seu guarda-roupa.
-Não precisa disso, mãe. A senhora sabe que eu não gosto que mexam nas minhas coisas!
-Olha o respeito, Keila! Pra dizer a verdade, eu fui procurar essa caixa aqui. Estava toda empoeirada.
-E o que tem nela?
-Fotos antigas. Tem até foto do meu casamento. Foto sua pequenininha na escola... foto sua no teatrinho da escola... Várias recordações!
-Ai, que horror! Eu não quero ver isso.
A mãe de Keysha pega um álbum e começa a passar suas fotos. É um álbum de fotos da formatura da quarta série.
-Olha como você tava mais bonitinha. Seus cabelos castanhos claros realçavam mais a sua beleza... Lembro que a professora te elogiava porque você tirava as notas mais altas da classe! Era tão educadinha. Você até brigou com uma coleguinha sua... ela tinha cortado seu cabelo com uma tesoura... Ah, essas crianças!
Aquelas lembranças viam à tona na mente de Keysha e feriam o seu ego com pedaços de vidro afiados. Relembrar coisas do passado a tornavam frágil, enfraquecia a estrutura sólida e o muro em volta de si que ela construiu. Aquilo não poderia retroceder!
-Aaaaaahhh!!! – grita Keysha.
A garota de cabelos rosa tem uma crise de surto e derruba os álbuns no chão. Sua mãe se assusta com aquela atitude:
-O que houve? Você está bem, Keila?
-Eu gosto que me chamem de Keysha!!!
-Esse não é o seu nome! É só um apelido! Por que fez isso?
Keysha tenta se acalmar e respira fundo:
-Eu to precisando ficar só, mãe!
Sua mãe a olha estranho.
-Recolha isso do chão! Depois eu quero uma explicação pra isso tudo!
A mãe de Keysha sai do quarto. A garota fecha a porta e respira fundo. Ela passa a mão em sua cabeça e olha os álbuns de fotografias que ela derrubou.
-Vou recolher isso porque eu não quero ficar vendo!
Keysha recolhe os álbuns e os amontoa de forma desorganizada. De repente, uma foto escapa do álbum. A garota pega e vê uma foto sua da oitava série. Ela e mais duas amigas. Ao olhar para o fundo, Keysha reconhece a pessoa... Era Pedro...


Horas depois, Lídia deixa a escola depois de um dia estressante de trabalho e se dirige ao shopping Pátio Brasil, na Asa Sul. Ela prefere estacionar dentro do estabelecimento, pois está frio lá fora. Ao chegar perto do elevador, a professora de português lembra-se de que tinha que ir à praça de alimentação. O estresse com a aluna Carolina a deixou com sentimentos e memórias confusas.
O elevador chega ao andar da praça de alimentação e Lídia tenta encontrar o lugar certo... Ela começa a ficar nervosa quando pensa no real propósito de estar ali. Então, alguém atrás dela a chama:
-Oi, “Professora Carente”.
Lídia olha para trás e dá um sorriso ao ver Jorge com um buquê de flores.



>>>> (continua no final dessa semana!) <<<<


*Na imagem, Lídia no shopping!

Música dos anos 80 que os universitários da UnB curtiam enquanto Jéssica e Anderson dançavam juntos:

Withisnake - Is This Love

Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Pedro ainda chora. Nathan olha o seu colega de faculdade e sente uma profunda pena. Rody fica impressionado com o que aconteceu e olha com olhos arregalados para Pedro e Keysha. Erick vê a cena e solta um sorriso irônico. Ele parece debochar da ingenuidade do rapaz e da sua fraqueza para com a bebida. Por fim, Keysha ainda suspira de raiva e nota sua unha preta quebrada.
-Seu doido! Sai de perto de mim! – grita Keysha.
Nathan olha para Keysha e reprova a atitude dela:
-Ele não ta bem! Não fez isso porque quis!
-Ele tentou me pegar à força e você ainda defende ele?
-Ele fez isso porque gosta de você, sua burra!
Keysha fica impressionada com o que Nathan acabou de dizer. Erick continua sorrindo e se divertindo com a situação. Nathan ajuda Pedro a se levantar.
-Vem, amigo. Vamo embora pra minha casa.
Nathan dá as costas e não se despede de Keysha, Rody e Erick. Pedro está cambaleante, em pé apenas porque Nathan o segura. Keysha se treme toda e olha novamente para a sua unha do dedo indicador da mão direita quebrada. Ela volta sua atenção para o rosto de Pedro e vê um pequeno arranhão.
Nathan ajuda Pedro a entrar em seu carro e logo dá partida para ir embora. Pedro ainda chora e se sente um pouco tonto e confuso pelo o que acabou de acontecer.
-Me desculpa, Nathan. Eu to tonto e com dor de cabeça.
-Relaxa, amigo. Vou te levar pra minha casa lá em Taguatinga Sul.
-Puxa vida... estraguei o dia...
-Fica calmo. Tu só extrapolou.
-Caraca... Pra que eu fui fumar aquela coisa nojenta?
-Po, eu gosto de fumar. Não tem nada a ver isso, cara.
-Você não tem medo de perder neurônios? Sem contar que é um troço fedido!
-Não vou discutir isso contigo.
-Papo de quem acha que não passa da conta... que não admite pra si mesmo que fuma demais... Ah, e eu ainda fui beber vodca...
-Você tomou tudo.
-E eu perdi Keysha... olha só o que eu fiz com ela.
-Não sei o que você viu nela. É uma garota meio confusa.
-Eu sonhava com ela. Sentava longe dela por causa da minha timidez de chegar perto. Ela sempre mexeu comigo... Eu ficava ofegante, arrepiado e atrapalhado...
-Que amor, amigo. Eu acho que nunca amei ninguém...
Nathan segue com o carro e passa ao lado do Congresso Nacional. A madrugada de Brasília está bem estrelada e o céu parece estar se preparando para um novo amanhecer. Ainda assim, as luzes iluminam o Congresso, o Palácio do Itamarati e os ministérios. Nathan admira aquela beleza e olha para Pedro. O rapaz agora dorme profundamente como se tivesse saído de uma batalha e precisasse de aconchego. E, na verdade, não foi muito diferente...


Um vento gostoso de se sentir chega junto com o amanhecer. Keysha sente esse ventinho bater em seu rosto ainda na Orla do Lago Paranoá. Ela ainda segura a sua mão direita e fica de olhos fechados para poder pensar sobre sua vida. Rody, que tirava um cochilo, resolve se levantar. Erick puxava uns tragos e olha para o seu colega se levantando:
-Po, to com dor de cabeça do caramba! Rola mais de ficar aqui não.
-Sim, vamo. Ainda tenho que ir pra casa da Juliana...
Keysha respira fundo e segue para perto do carro de Rody sem olhar para seus dois colegas ali presentes. Rody e Erick se olham e seguem para o carro.
Todos entram no carro e seguem de volta para o centro de Brasília.
-Me deixa lá em frente ao Pátio Brasil, Rody. De lá, eu vou a pé pra casa. – fala Keysha.
-Falou.
Keysha está no banco de trás do carro de Rody e se deita para pensar na vida. Ao olhar aquela cena, Erick aproveita a parada do carro no sinal vermelho e pula para o banco de trás. Erick quase deita em cima de Keysha e comenta:
-Tá com sono é?
-Ah... um pouco...
-Tá parecendo a Bela Adormecida assim...
-Me deixa, Erick...
Erick olha para Rody por meio do retrovisor e dá um sorriso.
-Deixa eu acordar a princesa, vai?
Keysha não responde nada e Erick aproveita a situação para lhe dar um beijo na boca. Keysha permite aquela situação. Erick, toma a mesma posição que Pedro tomou. Só que nesse caso, Keysha não se incomoda, nem mesmo com o bafo de maconha que Erick traz consigo. Erick a fazia ser Keysha... Pedro a fez ser Keila...


Minutos depois, Rody deixa Keysha e Erick em frente ao shopping Pátio Brasil e segue para a casa da sua namorada. Keysha vai andando desanimada e Erick pega em seu braço. A garota de cabelo rosa dá um sorriso e os dois seguem para a quadra 703 Sul.
Rody segue pela avenida W3 Sul e faz um retorno. Ele entra pela avenida W2 Sul para chegar mais rapidamente ao prédio onde sua namorada mora. Na Asa Sul, apenas nas quadras 700 há casas residenciais. As quadras 100, 200, 300 e 400 há apartamentos. As quadras 500 correspondem ao comércio e são viradas para a Avenida W3, assim como também as quadras 700. Já as quadras 600 e muitas das 900 são tomadas por colégios, prédios empresariais, entre outros. Nas quadras 800, há clubes. Na Asa Norte, nas quadras que corresponderiam às 800 está o território onde fica a Universidade de Brasília.
Rody chega à quadra 208 Sul. Ele desce do carro e liga para o celular da sua namorada. São quase sete horas da manhã.
-Oi, amor... To aqui embaixo no prédio. Desce aí.
Passando alguns minutos, Juliana desce e vai ao encontro de Rody.
-Ué, por que você ta aqui tão cedo?
-Eu acordei cedinho só pra ter ver, morzinho...
Rody começa a dar beijos na boca de Juliana.
-Você nunca nem fez isso, amor... – comenta Juliana.
-Eu tava com saudade. – fala Rody ao beijar o pescoço de sua namorada.
Ele a pega pela mão e a leva para dentro de seu carro. Rody fica olhando para a sua namorada. Juliana fica sem entender nada e boceja:
-Ahhh... nossa, ontem eu fiquei estudando tanto. To vendo lógica de programação na facu.
-Hum.
Rody começa com a beijar sua namorada novamente. Beija sua mão, seu braço, seu pescoço, sua boca, seu rosto. Juliana vai conversando enquanto isso:
-Ai, amor... eu ainda não entendo por que você trancou sua facu... Ta certo que seu pai te sustenta e você tem um bom apartamento na Asa Norte... mas eu queria te ver ocupado com alguma coisa. Nem para os ensaios da sua banda você tem ido mais...
-Hum... – responde Rody, sem dar muita importância para aquilo.
O rapaz de cabelos loiros sujos pega o rosto de sua namorada e lhe dá um beijo sufocante. Juliana empurra o seu rosto e fala:
-Ai, espera! Que tanta “beijação” é essa? Você nem ta dando ouvidos para o que eu estou te falando!
-Nossa, como você ta chata hoje, hein? Eu to com saudade e você me trata assim!
-E olha como você me trata! Eu estou tentando levar um papo sério contigo e você nem me escuta! Aliás, nunca me escuta!
-Ah, quer saber? Eu vou embora! Depois a gente se fala!
-Se é isso que você quer...
Juliana sai do carro de Rody e não olha para trás. O rapaz fica estressado com aquela situação e sai com seu carro.


Nesse momento, um avião pousa no aeroporto de Brasília. Veio de Recife e antes fez escala na Bahia. Aquele era o voo de Anderson. O rapaz sai do avião e espera sua bagagem na esteira. Ele dá uma olhada em tudo em volta e sente uma imensa alegria. Uma nova etapa de sua vida se inicia agora. Depois de pegar sua mala e sua mochila, Anderson sai pela ala de desembarque. Ele observa bem a estrutura do aeroporto e fica fascinado. Há muitas lojas e um amplo espaço para se visitar. Ao andar mais um pouco, ele nota a estrutura do primeiro andar do aeroporto, bem como sua arquitetura, seus monumentos e pinturas.
Anderson sobe a escada do hall para observar detalhadamente o lugar. Ele chega ao lugar dos restaurantes e onde se pode ver os aviões chegando e partindo. Ao olhar as horas em seu celular, o rapaz compreende que não pode se atrasar. Ele desce as escadas e procura por uma loja onde se pode vender um mapa de Brasília. Ao entrar na loja, ele pergunta:
-Bom dia! Aqui eu posso encontrar algum mapa da cidade?
-Sim. A gente vende este guia aqui. É ótimo!
-Vou leva-lo então!
-Você veio de que lugar?
-Recife.
-Ah, que legal. Sabia que a maior parte da população de Brasília é nordestina?
-Que bom. Vou estar em casa.
-Sim. Seja bem-vindo a Brasília!
-Obrigado!
Anderson compra o mapa e sai da loja. Ele vai se orientando e pergunta para um dos guardas como se faz para chegar à rodoviária. O guarda informa que há uma parada logo ali mesmo dentro do aeroporto onde ele poderá pegar um ônibus. Anderson segue com sua bagagem pesada e chega à parada. Há várias pessoas na mesma situação que ele esperando pelo ônibus. O rapaz conclui que ônibus ali deve ser uma coisa difícil... E é mesmo... Apenas após uma hora ali é que o ônibus chega... E fica logo lotado!
Anderson já fica espantado com o preço da passagem, mas entende que esse é o preço por se viver na capital do país. Ele senta mais atrás no ônibus e vai notando a paisagem. O ônibus sai do aeroporto e atravessa boa parte do Lago Sul, bairro nobre de Brasília e onde há várias embaixadas.
Depois de algum tempo, o ônibus finalmente chega à rodoviária do Plano Piloto! Anderson desembarca e fica um pouco espantado. A rodoviária está um pouco suja e com sinais de deterioração, precisando ser urgentemente reformada. Há alguns mendigos e crianças de rua olhando as pessoas formarem filas para embarcar nos ônibus. Anderson observa as lojas ali no térreo, bem como nota as escadas rolantes enferrujadas. Antes de seguir para o seu destino, ele resolve subir as escadas.
Após subir as duas escadas rolantes, Anderson chega à plataforma superior da rodoviária. Lá, ele fica impressionado com o amplo espaço e com a visão do horizonte que se tem daquele lugar. À sua frente está a Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional bem ao fundo. O sol do dia vai nascendo e parece se encaixar perfeitamente entre as duas torres do Congresso. O futuro universitário acha aquilo lindo e resolve pegar sua câmera digital para fotografar tudo.
Anderson chega até o limite da plataforma superior da rodoviária e tem uma melhor visão da Esplanada dos Ministérios. À sua esquerda, ele pode ver o Teatro Nacional e admirar sua arquitetura. À sua direita, está o museu, que tem um formato de uma semi-esfera, e a Biblioteca Nacional, que está mais perto da rodoviária. Há uma rodovia no lado direito, também chamada de Eixão Sul ou simplesmente Eixão. Dali, pode-se ver o prédio do Banco Central, do Banco de Brasília e do Banco do Brasil. Ao olhar para trás, o rapaz vê a Torre de Tv e os setores de Hotéis. Ele vai fotografando tudo aquilo esperando que o seu cartão de memória caiba tantas fotos! Anderson também fotografa o céu de Brasília. Que céu único e espetacular! Limpo e bem azul!
Como agora está de costas para a Esplanada dos Ministérios, Anderson vê do seu lado esquerdo um centro comercial chamado de Conic, e do seu lado direito o maior shopping de Brasília: o Conjunto Nacional.
Depois de tirar inúmeras fotos, Anderson guarda sua câmera digital e abre novamente o mapa.
-Universidade de Brasília... Entrar pela avenida L2 Norte... Bom, já está na hora de eu ir para a minha nova casa... a Casa do Estudante Universitário!
Anderson segue de volta para a rodoviária e desce as duas escadas. Ele pede informações com os motoristas de como chegar à UnB. O rapaz é então orientado a pegar o ônibus “Grande Circular”.


O dia parece passar rápido e o final da tarde já se aproxima. No Setor Bancário Sul, Jorge se prepara para ter uma reunião com a equipe que ele faz parte. São apenas três pessoas, incluindo Jorge, que cuidam de conta-poupança dos clientes do banco público. A Gerente Operacional os chama para uma sala reservada e, assim que Jorge e Letícia chegam, começa a falar:
-Bom, Jorge e Letícia. Eu os chamei aqui porque quero designar o meu substituto, aquele que assumirá um cargo de gerente temporário quando eu tiver que resolver assuntos externos ou falta por qualquer que seja o motivo.
Jorge se anima e mal espera para ouvir sobre quem a gerente Suzana escolheu.
-Infelizmente a gente só pode escolher um e eu fico triste e alegre ao mesmo tempo por dar essa notícia... mas quem me substituirá será você, Letícia.
Letícia dá um sorriso e abraça Suzana. Jorge fica decepcionado com aquilo e argumenta:
-Mas, Suzana... Eu tive experiência em agência bancária e cheguei até a ser gerente. Tem um ano que estou aqui na gerência. Isso tudo não conta?
-Ah, Jorge... é que a Letícia precisa mais...
Jorge engole aquilo a seco e fala:
-Tudo bem.
O bancário sai da sala muito decepcionado e vá para a sua mesa arrumar suas coisas. Já estava dando hora de ir embora. Antes de ir, ele passa no banheiro e lava o rosto. É preciso respirar fundo ao sentir que anos de experiência foram por água abaixo. Letícia era novata na gerência e não tinha tantos anos de experiência como Jorge tinha. O bancário respira fundo várias vezes para aquele choro interno passar.
Jorge sai do banheiro e vê que o tempo passou, pois as luzes do andar já estavam apagadas. Ele entra no elevador e desce para o subsolo. Chegando lá, ele procura por seu carro e nota um movimento do lado oposto. Ao observar bem, Jorge nota Letícia e Suzana se beijando dentro do carro.
-Então era isso... – comenta Jorge.
O bancário dá um soco na parede e entra em seu carro. Ele faz o retorno na pista e entra no Eixão Sul. Jorge não pensa em outra coisa a não ser ir para sua casa no Gama e esquecer aquela decepção do dia. Só mesmo conversando com a “Professora Carente” para poder se animar. Aliás, era aquele pensamento que lhe dava mais forças para prosseguir no dia depois de tantas “panelinhas” no serviço.
Depois de algum tempo, Jorge chega em casa e a primeira coisa que faz é ligar o computador. Enquanto vai tirando a roupa e ficando apenas de cueca para daqui a pouco tomar banho, ele espera abrir o MSN. E lá estava ela... “Professora Carente” on-line...
-Oi! – tecla Jorge.
-Oi. Tudo bem? Estava com saudade. – tecla a professora.
-Nossa, amor, to tão estressado. Tiraram um cargo que era pra mim... tudo porque a minha gerente tem um caso com minha colega de equipe.
-Liga não. Estou aqui pra te animar. Quero que você me anime também, pois enfrento problemas com alunos. Eu tenho uma aluna que é um problemão...
-Eu sei... Ei, amor... Estamos teclando há tanto tempo e eu ainda não vi uma foto sua... Pra dizer a verdade, ainda não te mandei uma minha...
-É verdade, rs.
-Acho que se eu ver uma foto sua, eu me animo. Vou tirar uma aqui agora. Estou só de cueca. Não vai se importar, né?
-Rs, não vou. Vou te mandar uma.
Jorge pega o seu celular e, com muito respeito, tira uma foto sua apenas do umbigo para cima. Ele conecta o cabo do celular no computador e transfere a foto.
-Acabei de tirar. Aceita a foto.
A professora logo aceita a foto. Depois de alguns segundos, ela digita:
-Nossa, você é muito bonito. Aceita agora a minha foto!
Jorge fica ansioso e logo baixa a foto para o seu computador. Após abrir a foto da professora, ele digita:
-Você superou minhas expectativas... Lídia, realmente você é uma professora muito bonita...


>>>>(continua na próxima semana!)<<<<

*Na foto, Anderson fotografando Brasília!

**Música que Anderson escutou no seu celular enquanto observava a Esplanada dos Ministérios na plataforma superior da rodoviária:

Jota Quest - Dias Melhores



Capítulo 7 – Tentando te alcançar...


Capítulo 7 – Tentando te alcançar...


Pedro escuta o amigo de Nathan avisar que a garota de cabelos rosa estava chegando e logo o seu olhar fica atento. O seu coração acelera ao procurar Keysha no meio da multidão. E lá está ela... Cabelos rosas, jaqueta preta, uma camisa feminina da banda de rock Reação em Cadeia vestida com muito estilo, calça rasgada e coturnos... A garota que despertou os impulsos do jovem rapaz caminhava até ali perto dele. Tudo bem que agora não era mais Keila, mas sim Keysha!
Keysha olha para frente e avista Pedro perto de seus conhecidos. Ela mantém o seu olhar sincero e egocêntrico, mas não tira o olho do rapaz de olhos verdes. Para Pedro, o mundo parecia só dele e de Keysha naquele momento. Quando ele decide ir cumprimenta-la, Rody e Erick chegam perto da garota.
-E aí, Keysha... – fala Erick.
Pedro vê aqueles dois rapazes cumprimentando Keysha e se sente deslocado. Seu jeito é mais comportado, com roupas no estilo social, além da sua postura cheia de etiquetas. Já Erick e Rody eram o oposto: estilo próprio, tatuagens, piercings, jeito descolado... aquilo ali era muito distante da realidade de Pedro.
Nathan também cumprimenta Keysha e em nenhum momento se lembra de aproximar o seu colega de faculdade do restante das pessoas.
-Galera, vamo entrar na festa?
-Bora. Só estava esperando você voltar. – fala Rody.
Nathan e seus amigos, além de Keysha, Rody, Erick e Pedro, vão para dentro do estádio. Eles são revistados pelos seguranças, procedimento este que evita que pessoas entrem com bebidas ou armas. Após todos passarem, Nathan respira aliviado, pois traz consigo alguns cigarros.
Pedro vai acompanhando toda aquela turma e nota a multidão que já estava dentro do estádio Mane Garricha. Gente de diversos estilos dançando ou conversando. Era muito barulho.
-Vamo mais pra perto do DJ? Quero curtir a potência máxima do som! – pergunta Nathan a todos.
Todos concordam e seguem para perto do palco onde está o DJ. Eles ficam perto das caixas de som e curtem ao máximo o volume alto. Pedro franze sua testa e fica um pouco tonto por causa da altura do som, mas ainda assim se junta aos amigos de Nathan.
Os jovens ficam parados em um lugar e dançam. Pedro tenta dançar e disfarçar seus passos tímidos e meio desengonçados. Erick fecha os olhos e fuma um cigarro. Rody conversa com Keysha:
-A doida da Keith ficou com raiva naquele dia?
-Se ela pudesse, teria dado uns murros na sua cara, Rody! – fala Keysha.
-Ela é mó garota TPM! Acho que ficou com raiva porque eu tentei beijar ela!
-Falar nisso, cadê a sua namorada?
-Tá em casa. Ela é muito careta, mas eu gosto dela. Mas eu quero mesmo é uma garota de atitude...
Keysha sorri com aquilo e continua a dançar. Seu olhar se encontra com o de Pedro novamente e a garota murcha o sorriso. Pedro balança a cabeça para cumprimenta-la e resolve chegar perto.
-Olá!
-E aí, mano. De boa? – fala Rody.
-Oi... – cumprimenta Keysha.
-Estão gostando do som? – pergunta Pedro.
-Estamos. – responde Rody.
Pedro dá um sorriso sem graça. Ele tem a sensação de que não agradou aos presentes e se sente em outro planeta, apesar dos poucos centímetros fisicamente distantes de Keysha e Rody. Pedro então olha para o lado e se assusta: Nathan acaba de enrolar um papel grande e o acende como se fosse um cigarro. O colega de faculdade segura o fino papel, coloca-o na boca e suga o ar prazerosamente. Ao soltar a fumaça para o vento, Nathan observa Pedro colocar a mão no nariz.
-Isso é maconha? Tava demorando... – pensa Pedro.
Erick esbarra sem querer em Pedro e se apressa em chegar perto de Nathan. Ele parece ter ficado alucinado com o cheiro da droga e quer compartilhar daquela fonte de prazer instantâneo. Nathan lhe dá um pouco da folha da planta em uma pequena bolinha de papel. Erick logo tira um flyer do seu bolso e o faz de tubo e de cigarro para poder fumar.
-Ei, a galera ta ali curtindo uma... Bora lá? – fala Rody para Keysha.
-Ih, estão murrinhando beck! Bando de viados! – grita Keysha.
Rody e Keysha vão para perto de Erick e Nathan. Pedro olha tudo aquilo ali distante. Complicado descrever o que ele sente nesse momento em que vê todos compartilhando algo que ele ouviu, durante toda a sua vida, não prestar. Nathan observa seu amigo deslocado e resolve não deixa-lo mais sozinho:
-Ei, foi mal por não ter te avisado, Pedro. Mas não se assusta que a galera aqui é de boa, ta?
Pedro tenta disfarçar a cara de assustado. Seu coração se desmancha quando ele avista Keysha compartilhando da droga. Uma lágrima sai do olho do rapaz de olhos verdes. Ao encarar de novo aquele grupo um pouco distante, Pedro nota Rody falar algo no ouvido de Keysha. De repente, Keysha olha para Pedro e ri. Mas não era um riso para ele e sim uma risada dele. Pedro sente fúria naquela hora...
-Ei, Pedro. Você ta legal? Não ficou com raiva de mim, né? Não to te deixando deslocado, falou? – comenta Nathan.
-Pelo contrário, Nathan... Eu quero compartilhar desse prazer com vocês...
Nathan se espanta com aquela atitude de seu colega de faculdade. Os dois então se juntam ao grupo.


Enquanto a noite avança, Khrysthyanne Andrielly toma coragem e desce de seu apartamento na 714 norte. A dama da noite atravessa uma rua e decide que a próxima esquina será o seu novo lugar de ponto. Algumas prostitutas observam-na de longe e já concluem que uma nova intrusa está no pedaço. Khrysthyanne apenas faz cara de despreocupada e balança sua perna enquanto espera por um cliente.
Os minutos vão se passando e a maior parte das prostitutas do local já conseguiu fazer seu programa. Algumas até três vezes. Khrysthyanne Andrielly já começa a ficar fula da vida:
-Ai, que saco! Só tem bicha pobre aqui nessa bosta dessa quadra! Ou pobre, ou de panelinha! Em que buraco eu fui me meter!
De repente, um homem em um Siena passa ali lentamente e observa a travesti. Khrysthyanne encara o possível cliente e, quando a luz ilumina, ela observa melhor quem está dentro do carro:
-Ih, abriram a porta do museu? Olha só o caco velho...
De fato, um senhor com idade mais ou menos de 70 anos encara a travesti.
-Não olha... não olha... – fala a travesti ao colocar a mão no rosto.
O homem para o carro e acena para Khrysthyanne.
-Ô, pai... será que eu trouxe o Viagra aqui na bolsa?
Khrysthyanne Andrielly então segue para perto do carro.
-Tá quanto o programa, fofura? – pergunta o senhor.
A travesti pensa até em desistir na última hora e aumenta o preço do programa:
-Hoje eu to gostosa e não saio por menos de setenta reais!
-Pois hoje eu to a fim de gastar com putaria e te dou cem. Entra aí, boneca.
Khrysthyanne Andrielly dá um sorriso sem graça e entra no carro. A travesti fecha a cara e segue para o seu programa.


Pedro ainda tremia ao pegar pela primeira vez aquele cigarro. Não era apenas um cigarro... ali continha uma substância da qual ele jamais ousara chegar perto. Ele olha para a expressão no rosto de Nathan e pensa em desistir. Ao olhar para sua esquerda e ver Keysha distraída, o rapaz resolve encurtar as distâncias de personalidades que os separavam...
Depois de algumas tragadas, Pedro começa a tossir. A sensação de tremedeira piora e ele sente sua boca formigar. O som da festa parece ter sua potência aumentada em dez vezes, e as pessoas dançando ali perto parecem ir e vir. O jogo de luzes no estádio Mane Garrincha invadem sua visão e giram numa velocidade incrível. Muitas risadas são percebidas. Pedro então tomba sentado e imagina estar em cima de algo mole. O frio aumenta intensamente e ele não consegue dizer uma só palavra.
Nesse momento, Rody, que também experimentava o barato, dá uma sugestão para a turma toda ali:
-Ei, galera. Aqui ta ficando paia. Bora para um lugar mais livre?
-O que você sugere? – pergunta Erick.
-Sei lá. Que tal a Orla do Lago?
-Ai, eu adoro lá. Eu topo ir. – fala Keysha.
Todos entram em consenso e decidem ir. Nathan tenta convencer os outros amigos que estavam ali perto, mas eles preferem ficar na festa. Keysha já segue com Erick e ambos vão de carona no carro de Rody. Nathan olha para Pedro e fala:
-Você vai com a gente, Pedro?
-...
Nathan o ajuda a se levantar e comenta:
-Calma que já já tu volta ao normal. Bora para a Orla do Lago que tu vai curtir muito esse barato aí!
Nathan vai ajudando Pedro a andar e a desviar da multidão. Os dois saem do estádio e seguem para o estacionamento. Nathan coloca Pedro em seu carro e segue Rody.


Já são quase duas horas da manhã. No aeroporto de Recife, um jovem espera um voo para Brasília: era Anderson. A notícia de que tinha passado em Psicologia na UnB o agradara muito. Aquele momento era um divisor de águas em sua vida. Irá estudar em uma universidade conceituada, morar em um lugar novo e fazer novas amizades. Há poucas horas, já tinha falado com o pessoal da Casa do Estudante Universitário e sua vaga já estava certa na moradia da universidade. É um momento de empolgação.
Anderson senta-se em um banco e se lembra da despedida de seus pais e amigos. Uma lágrima cai de seu olho e o rapaz até pensa em desistir daquela loucura. Ficar em um lugar desconhecido é uma experiência e tanto. Ele teve um contato rápido com Brasília nos dias em que fez a prova do vestibular, mas não foi o suficiente para entender a arquitetura da cidade e a mente de seus habitantes.
Duas horas em ponto. É anunciado que está na hora de os passageiros embarcarem no voo 2702 com destino a Brasília. Anderson respira fundo, toma coragem e levanta-se. Brasília está próxima...


A turma então chega à Orla do Lago. Keysha conversava com Rody e, indiretamente, deixava à mostra seu interesse por Erick. Eles estacionam o carro em cima das britas e correm para a estrutura de madeira construída à beira do lago Paranoá. Alguns pedaços de madeira foram arrancados da estrutura e isso dificulta um pouco a passagem até a ponta. Erick brinca de tentar empurrar Keysha na água e a garota ri muito. Isso traz alegria e uma pontinha de esperança de ter alguma coisa com o rapaz.
Nathan e Pedro chegam logo atrás e estacionam o carro perto do carro de Rody.
-Você tem certeza de que quer ir, Pedro? Acho que tu não ta legal, cara!
-Eu quero sair...
Nathan balança a cabeça e os dois saem do carro. Pedro se sente ofegante e acompanha Nathan. Rody os vê e grita:
-Ei, aqui, seus doidos!
-Lá vem o Nathan e aquele garoto... – fala Keysha.
Rody se vira para Erick e fala:
-Erick, abre o porta-malas lá do meu carro para pegar as bebidas que a gente levou pra festa. To a fim de amanhecer bebaço!
-Falou e disse, brother.
Erick pega as chaves do carro de Rody e segue para o estacionamento. Ele passa por Nathan e Pedro, e comenta:
-A gente vai virar a madrugada ali.
Erick olha para Pedro e volta a olhar para o carro de Rody. Pedro acompanha o cheiro de maconha na camisa de Erick e acaba tropeçando em um vão da estrutura de madeira. Por sorte, Nathan o segura e evita um desastre maior, pois Pedro iria cair dentro do lago!
Os dois chegam perto de Rody e Keysha. Pedro se senta e fica com um olhar bem triste. Keysha nota aquilo e pergunta:
-O que foi que tu ta assim?
-Acho que estou com dor de cabeça... – responde Pedro.
-Eu acho que ele não agüentou os tragos. – comenta Nathan.
-Para, Nathan. Eu acho que foi por causa do vento no carro...
-Quê? Que vento, rapaz! Tu ta delirando! Se nunca tinha fumado, por que exagerou?
-Eu não consigo imaginar o melhor aluno da oitava série fazendo essas coisas. Você era tão CDF... – comenta Keysha.
-Vocês estudaram juntos? – pergunta Rody.
-Sim, mas eu nem lembrava direito. É uma época que eu quero esquecer...
-Por que?
-Bom... deixa pra lá, Rody. Isso não vem ao caso.
Nessa hora, Erick chega com as bebidas. Nathan pega a garrafa de vodca e alguns copos de plástico.
-Puxa, eu estou com sede... – comenta Pedro.
Nathan pega um copo e coloca vodca.
-Não tem água aqui, mas tem essa bebida. Acho que deve dar.
Pedro pega o copo e bebe a vodca. Naquela altura, o gosto da bebida alcoólica já não fazia muita diferença para o rapaz de olhos verdes.
-Bah! Não quero mais tomar essa porcaria! – grita Pedro depois de tomar toda a vodca no copo.
Pedro se levanta e começa a caminhar sem rumo. De repente, ele tropeça e tomba em cima de Keysha.
-Ai! Você ta doido? – pergunta Keysha.
-Finalmente...
Pedro olha bem nos olhos de Keysha e a deixa angustiada.
-Finalmente eu vou conseguir te dar um beijo...
-O quê? Sai de cima de mim!
-Eu sempre quis você... sempre sonhei com você! Agora, me deve isto!
Pedro segura o rosto de Keysha com força e aproxima seus lábios dos do dela. O rapaz consegue dar um beijo em sua amada. Keysha, mortalmente raivosa, empurra o rosto de Pedro com força e, com ódio no olhar, dá um tapa em sua cara...


O estalo do tapa ecoa pela margem do lago...


Pedro cai sentado e olha para a face de todos ali presente: Nathan, Rody, Erick... e Keysha! Ele parece ter se recuperado instantaneamente da alucinação causada pela droga e pela bebida. Pedro começa a chorar. Seu choro brota do interior de seu corpo e se assemelha ao de uma criança, ou ao de alguém que foi abandonado, ou ao de alguém que foi traído, ou ao de alguém que perdeu alguém...
Pedro apenas chora com a mais profunda de suas forças...


>>>>>(continua na próxima semana!)<<<<<

*Música da banda Reação em Cadeia (banda da camisa da Keysha):

Reação em Cadeia - G.A.B.I.


*Na foto, da esquerda para a direita: Keysha, Pedro, Rody, Erick e Nathan.