Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Capítulo 8 – Brasília pra que te quero


Pedro ainda chora. Nathan olha o seu colega de faculdade e sente uma profunda pena. Rody fica impressionado com o que aconteceu e olha com olhos arregalados para Pedro e Keysha. Erick vê a cena e solta um sorriso irônico. Ele parece debochar da ingenuidade do rapaz e da sua fraqueza para com a bebida. Por fim, Keysha ainda suspira de raiva e nota sua unha preta quebrada.
-Seu doido! Sai de perto de mim! – grita Keysha.
Nathan olha para Keysha e reprova a atitude dela:
-Ele não ta bem! Não fez isso porque quis!
-Ele tentou me pegar à força e você ainda defende ele?
-Ele fez isso porque gosta de você, sua burra!
Keysha fica impressionada com o que Nathan acabou de dizer. Erick continua sorrindo e se divertindo com a situação. Nathan ajuda Pedro a se levantar.
-Vem, amigo. Vamo embora pra minha casa.
Nathan dá as costas e não se despede de Keysha, Rody e Erick. Pedro está cambaleante, em pé apenas porque Nathan o segura. Keysha se treme toda e olha novamente para a sua unha do dedo indicador da mão direita quebrada. Ela volta sua atenção para o rosto de Pedro e vê um pequeno arranhão.
Nathan ajuda Pedro a entrar em seu carro e logo dá partida para ir embora. Pedro ainda chora e se sente um pouco tonto e confuso pelo o que acabou de acontecer.
-Me desculpa, Nathan. Eu to tonto e com dor de cabeça.
-Relaxa, amigo. Vou te levar pra minha casa lá em Taguatinga Sul.
-Puxa vida... estraguei o dia...
-Fica calmo. Tu só extrapolou.
-Caraca... Pra que eu fui fumar aquela coisa nojenta?
-Po, eu gosto de fumar. Não tem nada a ver isso, cara.
-Você não tem medo de perder neurônios? Sem contar que é um troço fedido!
-Não vou discutir isso contigo.
-Papo de quem acha que não passa da conta... que não admite pra si mesmo que fuma demais... Ah, e eu ainda fui beber vodca...
-Você tomou tudo.
-E eu perdi Keysha... olha só o que eu fiz com ela.
-Não sei o que você viu nela. É uma garota meio confusa.
-Eu sonhava com ela. Sentava longe dela por causa da minha timidez de chegar perto. Ela sempre mexeu comigo... Eu ficava ofegante, arrepiado e atrapalhado...
-Que amor, amigo. Eu acho que nunca amei ninguém...
Nathan segue com o carro e passa ao lado do Congresso Nacional. A madrugada de Brasília está bem estrelada e o céu parece estar se preparando para um novo amanhecer. Ainda assim, as luzes iluminam o Congresso, o Palácio do Itamarati e os ministérios. Nathan admira aquela beleza e olha para Pedro. O rapaz agora dorme profundamente como se tivesse saído de uma batalha e precisasse de aconchego. E, na verdade, não foi muito diferente...


Um vento gostoso de se sentir chega junto com o amanhecer. Keysha sente esse ventinho bater em seu rosto ainda na Orla do Lago Paranoá. Ela ainda segura a sua mão direita e fica de olhos fechados para poder pensar sobre sua vida. Rody, que tirava um cochilo, resolve se levantar. Erick puxava uns tragos e olha para o seu colega se levantando:
-Po, to com dor de cabeça do caramba! Rola mais de ficar aqui não.
-Sim, vamo. Ainda tenho que ir pra casa da Juliana...
Keysha respira fundo e segue para perto do carro de Rody sem olhar para seus dois colegas ali presentes. Rody e Erick se olham e seguem para o carro.
Todos entram no carro e seguem de volta para o centro de Brasília.
-Me deixa lá em frente ao Pátio Brasil, Rody. De lá, eu vou a pé pra casa. – fala Keysha.
-Falou.
Keysha está no banco de trás do carro de Rody e se deita para pensar na vida. Ao olhar aquela cena, Erick aproveita a parada do carro no sinal vermelho e pula para o banco de trás. Erick quase deita em cima de Keysha e comenta:
-Tá com sono é?
-Ah... um pouco...
-Tá parecendo a Bela Adormecida assim...
-Me deixa, Erick...
Erick olha para Rody por meio do retrovisor e dá um sorriso.
-Deixa eu acordar a princesa, vai?
Keysha não responde nada e Erick aproveita a situação para lhe dar um beijo na boca. Keysha permite aquela situação. Erick, toma a mesma posição que Pedro tomou. Só que nesse caso, Keysha não se incomoda, nem mesmo com o bafo de maconha que Erick traz consigo. Erick a fazia ser Keysha... Pedro a fez ser Keila...


Minutos depois, Rody deixa Keysha e Erick em frente ao shopping Pátio Brasil e segue para a casa da sua namorada. Keysha vai andando desanimada e Erick pega em seu braço. A garota de cabelo rosa dá um sorriso e os dois seguem para a quadra 703 Sul.
Rody segue pela avenida W3 Sul e faz um retorno. Ele entra pela avenida W2 Sul para chegar mais rapidamente ao prédio onde sua namorada mora. Na Asa Sul, apenas nas quadras 700 há casas residenciais. As quadras 100, 200, 300 e 400 há apartamentos. As quadras 500 correspondem ao comércio e são viradas para a Avenida W3, assim como também as quadras 700. Já as quadras 600 e muitas das 900 são tomadas por colégios, prédios empresariais, entre outros. Nas quadras 800, há clubes. Na Asa Norte, nas quadras que corresponderiam às 800 está o território onde fica a Universidade de Brasília.
Rody chega à quadra 208 Sul. Ele desce do carro e liga para o celular da sua namorada. São quase sete horas da manhã.
-Oi, amor... To aqui embaixo no prédio. Desce aí.
Passando alguns minutos, Juliana desce e vai ao encontro de Rody.
-Ué, por que você ta aqui tão cedo?
-Eu acordei cedinho só pra ter ver, morzinho...
Rody começa a dar beijos na boca de Juliana.
-Você nunca nem fez isso, amor... – comenta Juliana.
-Eu tava com saudade. – fala Rody ao beijar o pescoço de sua namorada.
Ele a pega pela mão e a leva para dentro de seu carro. Rody fica olhando para a sua namorada. Juliana fica sem entender nada e boceja:
-Ahhh... nossa, ontem eu fiquei estudando tanto. To vendo lógica de programação na facu.
-Hum.
Rody começa com a beijar sua namorada novamente. Beija sua mão, seu braço, seu pescoço, sua boca, seu rosto. Juliana vai conversando enquanto isso:
-Ai, amor... eu ainda não entendo por que você trancou sua facu... Ta certo que seu pai te sustenta e você tem um bom apartamento na Asa Norte... mas eu queria te ver ocupado com alguma coisa. Nem para os ensaios da sua banda você tem ido mais...
-Hum... – responde Rody, sem dar muita importância para aquilo.
O rapaz de cabelos loiros sujos pega o rosto de sua namorada e lhe dá um beijo sufocante. Juliana empurra o seu rosto e fala:
-Ai, espera! Que tanta “beijação” é essa? Você nem ta dando ouvidos para o que eu estou te falando!
-Nossa, como você ta chata hoje, hein? Eu to com saudade e você me trata assim!
-E olha como você me trata! Eu estou tentando levar um papo sério contigo e você nem me escuta! Aliás, nunca me escuta!
-Ah, quer saber? Eu vou embora! Depois a gente se fala!
-Se é isso que você quer...
Juliana sai do carro de Rody e não olha para trás. O rapaz fica estressado com aquela situação e sai com seu carro.


Nesse momento, um avião pousa no aeroporto de Brasília. Veio de Recife e antes fez escala na Bahia. Aquele era o voo de Anderson. O rapaz sai do avião e espera sua bagagem na esteira. Ele dá uma olhada em tudo em volta e sente uma imensa alegria. Uma nova etapa de sua vida se inicia agora. Depois de pegar sua mala e sua mochila, Anderson sai pela ala de desembarque. Ele observa bem a estrutura do aeroporto e fica fascinado. Há muitas lojas e um amplo espaço para se visitar. Ao andar mais um pouco, ele nota a estrutura do primeiro andar do aeroporto, bem como sua arquitetura, seus monumentos e pinturas.
Anderson sobe a escada do hall para observar detalhadamente o lugar. Ele chega ao lugar dos restaurantes e onde se pode ver os aviões chegando e partindo. Ao olhar as horas em seu celular, o rapaz compreende que não pode se atrasar. Ele desce as escadas e procura por uma loja onde se pode vender um mapa de Brasília. Ao entrar na loja, ele pergunta:
-Bom dia! Aqui eu posso encontrar algum mapa da cidade?
-Sim. A gente vende este guia aqui. É ótimo!
-Vou leva-lo então!
-Você veio de que lugar?
-Recife.
-Ah, que legal. Sabia que a maior parte da população de Brasília é nordestina?
-Que bom. Vou estar em casa.
-Sim. Seja bem-vindo a Brasília!
-Obrigado!
Anderson compra o mapa e sai da loja. Ele vai se orientando e pergunta para um dos guardas como se faz para chegar à rodoviária. O guarda informa que há uma parada logo ali mesmo dentro do aeroporto onde ele poderá pegar um ônibus. Anderson segue com sua bagagem pesada e chega à parada. Há várias pessoas na mesma situação que ele esperando pelo ônibus. O rapaz conclui que ônibus ali deve ser uma coisa difícil... E é mesmo... Apenas após uma hora ali é que o ônibus chega... E fica logo lotado!
Anderson já fica espantado com o preço da passagem, mas entende que esse é o preço por se viver na capital do país. Ele senta mais atrás no ônibus e vai notando a paisagem. O ônibus sai do aeroporto e atravessa boa parte do Lago Sul, bairro nobre de Brasília e onde há várias embaixadas.
Depois de algum tempo, o ônibus finalmente chega à rodoviária do Plano Piloto! Anderson desembarca e fica um pouco espantado. A rodoviária está um pouco suja e com sinais de deterioração, precisando ser urgentemente reformada. Há alguns mendigos e crianças de rua olhando as pessoas formarem filas para embarcar nos ônibus. Anderson observa as lojas ali no térreo, bem como nota as escadas rolantes enferrujadas. Antes de seguir para o seu destino, ele resolve subir as escadas.
Após subir as duas escadas rolantes, Anderson chega à plataforma superior da rodoviária. Lá, ele fica impressionado com o amplo espaço e com a visão do horizonte que se tem daquele lugar. À sua frente está a Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional bem ao fundo. O sol do dia vai nascendo e parece se encaixar perfeitamente entre as duas torres do Congresso. O futuro universitário acha aquilo lindo e resolve pegar sua câmera digital para fotografar tudo.
Anderson chega até o limite da plataforma superior da rodoviária e tem uma melhor visão da Esplanada dos Ministérios. À sua esquerda, ele pode ver o Teatro Nacional e admirar sua arquitetura. À sua direita, está o museu, que tem um formato de uma semi-esfera, e a Biblioteca Nacional, que está mais perto da rodoviária. Há uma rodovia no lado direito, também chamada de Eixão Sul ou simplesmente Eixão. Dali, pode-se ver o prédio do Banco Central, do Banco de Brasília e do Banco do Brasil. Ao olhar para trás, o rapaz vê a Torre de Tv e os setores de Hotéis. Ele vai fotografando tudo aquilo esperando que o seu cartão de memória caiba tantas fotos! Anderson também fotografa o céu de Brasília. Que céu único e espetacular! Limpo e bem azul!
Como agora está de costas para a Esplanada dos Ministérios, Anderson vê do seu lado esquerdo um centro comercial chamado de Conic, e do seu lado direito o maior shopping de Brasília: o Conjunto Nacional.
Depois de tirar inúmeras fotos, Anderson guarda sua câmera digital e abre novamente o mapa.
-Universidade de Brasília... Entrar pela avenida L2 Norte... Bom, já está na hora de eu ir para a minha nova casa... a Casa do Estudante Universitário!
Anderson segue de volta para a rodoviária e desce as duas escadas. Ele pede informações com os motoristas de como chegar à UnB. O rapaz é então orientado a pegar o ônibus “Grande Circular”.


O dia parece passar rápido e o final da tarde já se aproxima. No Setor Bancário Sul, Jorge se prepara para ter uma reunião com a equipe que ele faz parte. São apenas três pessoas, incluindo Jorge, que cuidam de conta-poupança dos clientes do banco público. A Gerente Operacional os chama para uma sala reservada e, assim que Jorge e Letícia chegam, começa a falar:
-Bom, Jorge e Letícia. Eu os chamei aqui porque quero designar o meu substituto, aquele que assumirá um cargo de gerente temporário quando eu tiver que resolver assuntos externos ou falta por qualquer que seja o motivo.
Jorge se anima e mal espera para ouvir sobre quem a gerente Suzana escolheu.
-Infelizmente a gente só pode escolher um e eu fico triste e alegre ao mesmo tempo por dar essa notícia... mas quem me substituirá será você, Letícia.
Letícia dá um sorriso e abraça Suzana. Jorge fica decepcionado com aquilo e argumenta:
-Mas, Suzana... Eu tive experiência em agência bancária e cheguei até a ser gerente. Tem um ano que estou aqui na gerência. Isso tudo não conta?
-Ah, Jorge... é que a Letícia precisa mais...
Jorge engole aquilo a seco e fala:
-Tudo bem.
O bancário sai da sala muito decepcionado e vá para a sua mesa arrumar suas coisas. Já estava dando hora de ir embora. Antes de ir, ele passa no banheiro e lava o rosto. É preciso respirar fundo ao sentir que anos de experiência foram por água abaixo. Letícia era novata na gerência e não tinha tantos anos de experiência como Jorge tinha. O bancário respira fundo várias vezes para aquele choro interno passar.
Jorge sai do banheiro e vê que o tempo passou, pois as luzes do andar já estavam apagadas. Ele entra no elevador e desce para o subsolo. Chegando lá, ele procura por seu carro e nota um movimento do lado oposto. Ao observar bem, Jorge nota Letícia e Suzana se beijando dentro do carro.
-Então era isso... – comenta Jorge.
O bancário dá um soco na parede e entra em seu carro. Ele faz o retorno na pista e entra no Eixão Sul. Jorge não pensa em outra coisa a não ser ir para sua casa no Gama e esquecer aquela decepção do dia. Só mesmo conversando com a “Professora Carente” para poder se animar. Aliás, era aquele pensamento que lhe dava mais forças para prosseguir no dia depois de tantas “panelinhas” no serviço.
Depois de algum tempo, Jorge chega em casa e a primeira coisa que faz é ligar o computador. Enquanto vai tirando a roupa e ficando apenas de cueca para daqui a pouco tomar banho, ele espera abrir o MSN. E lá estava ela... “Professora Carente” on-line...
-Oi! – tecla Jorge.
-Oi. Tudo bem? Estava com saudade. – tecla a professora.
-Nossa, amor, to tão estressado. Tiraram um cargo que era pra mim... tudo porque a minha gerente tem um caso com minha colega de equipe.
-Liga não. Estou aqui pra te animar. Quero que você me anime também, pois enfrento problemas com alunos. Eu tenho uma aluna que é um problemão...
-Eu sei... Ei, amor... Estamos teclando há tanto tempo e eu ainda não vi uma foto sua... Pra dizer a verdade, ainda não te mandei uma minha...
-É verdade, rs.
-Acho que se eu ver uma foto sua, eu me animo. Vou tirar uma aqui agora. Estou só de cueca. Não vai se importar, né?
-Rs, não vou. Vou te mandar uma.
Jorge pega o seu celular e, com muito respeito, tira uma foto sua apenas do umbigo para cima. Ele conecta o cabo do celular no computador e transfere a foto.
-Acabei de tirar. Aceita a foto.
A professora logo aceita a foto. Depois de alguns segundos, ela digita:
-Nossa, você é muito bonito. Aceita agora a minha foto!
Jorge fica ansioso e logo baixa a foto para o seu computador. Após abrir a foto da professora, ele digita:
-Você superou minhas expectativas... Lídia, realmente você é uma professora muito bonita...


>>>>(continua na próxima semana!)<<<<

*Na foto, Anderson fotografando Brasília!

**Música que Anderson escutou no seu celular enquanto observava a Esplanada dos Ministérios na plataforma superior da rodoviária:

Jota Quest - Dias Melhores



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